Garner, Adams e Edgerton: tentando ser uma família comum.
Todo mundo sabe que os filmes produzidos pela Disney são realizados dentro de um conjunto de parâmetros que, se por um lado confere uma identidade própria ao estúdio, por outro, engessa tramas que poderiam render muito mais na telona. Os efeitos disso podem ser visto nos últimos longas da Pixar (após a junção com o estúdio) e também em produções como A Estranha Vida de Timothy Green, filme simpático que poderia ser muito mais se não abandonasse pelo meio do caminho tudo o que a premissa tem de mais original para injetar doses cavalares de açúcar na história da família Green. Cindy (Jennifer Garner) e Jim (Joel Edgerton) formam um casal feliz, mas desde o início sabemos que não podem ter filhos. A dificuldade para que consigam gerar um herdeiro os deixa profundamente tristes, mesmo assim costumam fantasiar sobre como seria o rebento de ambos. Numa dessas fantasias, escrevem todas as expectativas que nutriram sobre o pequeno que nunca chega, colocam essas expectativas numa caixinha e enterram no quintal. Depois de uma chuva misteriosa, os dois se deparam com um menino chamado Timothy (CJ Adams) que possui todas as características desejadas por eles, só que com folhas que nasce de suas pernas. Esse elemento mostra que trata-se de uma fábula, mas não uma qualquer, uma construída por Peter Hedges - que já demonstrou gostar de tramas familiares em seus roteiros de Gilbert Grape (1993) e Um Grande Garoto (2002), assim como em seus filmes como diretor, Do Jeito que Ela é (2003) e Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada (2007). Quem conhece sua filmografia sabe que ele consegue equilibrar drama com toques de humor na medida certa, mas sua receita ganhou o acréscimo de elementos mágicos que nem sempre são bem aproveitados pelo roteiro. Por mais que seja poético o efeito das folhas que caem aos poucos do menino, não deixa de causar estranhamento que as pessoas aceitem a presença de Timothy com tanta facilidade. Tirando os comentários da tia esnobe (vivida por Rosemary Dewitt) e um incidente na escola, tudo se resolve tão facilmente que beira o superficial quando o assunto é a relação de Timothy com o mundo. Obviamente que o novato CJ Adams esbanja carisma, mas seu personagem lhe permite poucas possibilidade de se impor no mundo que o cerca. Toda essa ausência de conflitos pode ser atribuída ao tom de fábula que o diretor adotou em sua empreitada. No entanto, me incomoda mais a falta de sutileza como o filme aborda a competitividade quase doentia que existem entre os pais da trama - que os leva a cometer vários equívocos - e a pendenga que Jim tem com o seu pai ausente (David Morse). No fim das contas, o filme consegue dar conta do básico em suas intenções, pena que perde a chance de se tornar um filme ainda mais interessante se aprofundasse as questões voltadas para o respeito à diferença que está sempre abafado pelo andamento da trama. Mesmo assim, por ser bem feitinho e com bom elenco, acredito que alguns chorões vão precisar de um lencinho ao final da trama.
A Estranha Vida de Timothy Green (The Odd Life of Timothy Green/EUA-2012) de Peter Hedges com Jennifer Garner, Joel Edgerton, CJ Adams e David Morse. ☻☻☻
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