Womack: um herói (quase) de ação.
Ken Loach é famoso por seus filmes politizados. Seu engajamento costuma ser aclamado principalmente no Festival de Cannes, onde quase todos os seus filmes foram indicados à Palma de Ouro - e até ganhou uma com Ventos da Liberdade (2006). Em 2010 ele foi mais uma vez indicado ao prêmio máximo do Festival ao buscar uma abordagem diferente para sua temática favorita. Rota Irlandesa ao invés de investir nos tons dramáticos ou românticos opta por uma atmosfera de filme de ação que consegue até prender a atenção do espectador, mas exibe toda a falta de jeito de Loach com o gênero. Obviamente que é interessante ver doses cavalares de conteúdo e maior complexidade na trama do que a maioria dos longas do gênero oferece, no entanto ele se enrola com os longos diálogos e excessos de narrativas sobre eventos importantes que, nas mãos de qualquer outro diretor, teriam se tornado eficientes cenas de flashback. Ao optar pelas conversações o filme acaba pecando pelo ritmo, mas ainda consegue manter alguma tensão ao contar a história de dois amigos, Fergus (Mark Womack) e Frankie (John Bishop). O primeiro convenceu o segundo a partir com ele para trabalhar na "via mais perigosa do mundo", que fica entre o aeroporto de Bagdá e a famigerada zona verde (mais conhecida como os arredores do palácio que pertencia à Saddam Hussein). Foi nessa rota conhecida como "irlandesa" que Frankie foi vítima de um atentado mal explicado e que Fergus busca esclarecer. Pelo caminho de suas investigações (que parecem realizadas pelo Skype!!!) sobre alguns magnatas da indústria de armamentos, Fergus se depara com evidências de que tudo foi planejado para encobrir um crime testemunhado pelo amigo. O maior desafio de Loach parece ser conciliar a carga emocional da perda do amigo com a violência que aparece durante a narrativa (incluindo uma cena de tortura que vai contra tudo que o protagonista pregou durante boa parte da sessão), no entanto, o maior do diretor foi construir uma trama repleta de obviedades. Sem novidades sobre a sempre criticada invasão do Iraque, o filme patina entre a falta de novidade e a pretensão. Talvez o maior problema do filme seja matar o suspense logo no início quando mostra o motivo de Frankie ter sido assassinado. Mark Womack (famoso por vários trabalhos na TV europeia) até consegue convencer com os dilemas de seu personagem, mas Rota Irlandesa carece de um rumo que não evidencie o tempo todo os conflitos de seu diretor com o gênero que adotou para contar a sua história. Do pacifismo à condenação aos métodos de tortura, o filme é repleto de boas intenções, mas funciona menos do que seu diretor gostaria - especialmente pelo final que pretende ser solene, mas consegue ser apenas gratuito.
Rota Irlandesa (Route Irish / Reino Unido / França / Bélgica / Itália / Espanha - 2010) de Ken Loach com Mark Womack, John Bishop, Jacques Herlin e Michael Lonsdale. ☻☻
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