Adélio Lima e Andrade: arrepiante.
Se Daniel Day Lewis teve a atuação fantasmagórica de Hollywood em 2012, o cinema brasileiro também teve a sua graças ao talento de Júlio Andrade que soube personificar Gonzaguinha para além do que o figurino lhe sugeria. No sucesso Gonzaga - De Pai para Filho de Breno Silveira (o mesmo de Dois Filhos de Francisco/2005 e do recente À Beira do Caminho/2012 que devo comentar em breve), Andrade parece captar a alma do filho de Luiz Gonzaga de forma arrepiante. O modo de andar, de falar, de olhar é de uma perfeição assustadora. Com o personagem em suas mãos, nunca parece uma caricatura ou um ator fantasiado, a primeira vista é como se Gonzaguinha houvesse ressuscitado! A presença de Júlio é tão marcante que mesmo sendo um coadjuvante do personagem paterno, sua atuação é tão forte que ao final da sessão, temos a impressão que ele recebeu tanto destaque na trama quanto o personagem de papai Gonzaga. O filme é baseado em algumas fitas de entrevistas que Gonzaguinha fez com seu pai. Eu não fazia ideia de como a relação dos dois era tão conflituosa e, desde o início, quando o personagem escuta a primeira fita, temos certeza que a catarse familiar será o desfecho da trama. O filme poderia investir no dramalhão ou na lavagem de roupa suja, mas prefere trabalhar o conflito entre pai e filho, que sempre é capaz de elevar uma produção quando é bem escrita (Luke Skywalker e Darth Vader que o diga!). Até a idade adulta, Gonzaga era um total estranho para seu filho e o reencontro de ambos no sertão nordestino serve para que o pai explique sua história. Do momento em que decide sair da casa dos pais em Exu (Pernambuco) para servir o exército e depois ir tentar a vida no Rio de Janeiro com sua sanfona, bem antes de se tornar conhecido como o Rei do Baião ao vida foi bastante difícil. Até para começar o reinado, Gonzaga teve que escolher entre ficar com a esposa carioca Odaléia (Nanda Costa, que pode não funcionar como protagonista de novela, mas no cinema sempre convence) e com o filho Luizinho. Quando a morte de Odaléia chega, Gonzaga deixa o filho com um casal de amigos e lhe garante o sustento com o dinheiro que manda todo mês, mas Luizinho sempre considera que só isso não é suficiente. Passam os anos e os dois nunca se entendem e a coisa só piora quando Gonzaga casa com Helena (a ótima Ana Roberta Gualda), com quem o relacionamento com Luizinho é ainda mais tempestuoso. Precisa falar que com a chegada da ditadura e o engajamento juvenil de Gonzaguinha a relação com o pai piora mais ainda? Melhor eu parar por aqui. Embora seja bastante convencional, Breno Silveira sabe como contar a história do legado musical da família Gonzaga. Sem exagerar nas idas e vindas temporais, existe tanta dor e ressentimento em suas histórias que é como se pudessemos enxergar o nascimento de seus maiores sucessos e a emoção depositada em cada música. Além da bela fotografia e o cuidado com a direção e arte, o filme tem um fôlego inestimável com as atuações de todos os atores que dão vida à Gonzaga pai e Gonzaga filho, sobretudo o desconhecido Júlio Andrade. Curioso é imaginar que o ator não acreditava em conseguir o papel, ao ponto da esposa inscrevê-lo para o teste. Essa patroa vale ouro!
Gonzaga - De Pai para Filho (Brasil/2012) de Breno Silveira com Júlio Andrade, Adélio Lima, Nivaldo Expedito, Nanda Costa, Silvia Buarque, Ana Roberta Gualda, Domingos Montagner e Cecília Dassi. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário