Mia e Woody: química cômica no auge.
Das musas de Woody Allen, foi com Mia Farrow que houve o rompimento mais traumático (pelo motivo que todo mundo sabe). Desde o famigerado episódio de décadas atrás, os filmes realizados no tempo em que estavam juntos ganharam para mim um estranho bônus melancólico, com exceção de Broadway Danny Rose - que deve ser a comédia mais rasgada que os dois fizeram juntos. Não consigo lembrar de outro filme em que apareçam juntos em cena onde a química fosse tão absurda. Curiosamente o filme foi realizado numa época em que Allen parecia obcecado por biografias. No ano anterior ele havia realizado o documentário fake Zelig (1983) e depois fez essa espécie de conjunto de anedotas sobre um agente de artistas, digamos, pouco convencionais. Não por acaso o filme começa com um grupo de amigos comediantes lembrando das proezas de Danny Rose e seus artistas (onde a mais normal é uma mulher que toca copos), até que um deles lembra da grande confusão que Danny se meteu quando resolveu ajudar o seu cliente cantor Lou Canova (o grandalhão Nick Apollo Forte) a se reaproximar da amante, Tina (Mia Farrow). Lou é casado, mas pede para Danny levar a amante a uma apresentação que promete ser a mais importante de sua carreira. O problema é que Tina tem personalidade forte e um noivo com ligações com a máfia. Misture uma premissa dessas com o melhor momento da criatividade do cineasta e você pode imaginar o que acontece. Allen não consegue conter nosso riso nem quando existe uma perseguição com direito a troca de tiros! Tudo é tão absurdo e acelerado que mal conseguimos pensar no absurdo de tudo o que acontece. Além de Allen vivendo o personagem de sempre numa situação complicada, o filme traz Mia Farrow em um dos papéis mais marcantes de sua carreira. Sua Tina de óculos enormes e visual sofisticado lembra pouco as personagens tristonhas que interpretou em sua parceria com o então esposo. Farrow está espetacular e rouba várias cenas com seu jeito elétrico e esfuziante - até quando sente o peso na consciência por uma manobra que deixa Danny Rose deprimido. Não se engane pela fotografia em preto e branco, Allen faz um filme tão despretensiosamente divertido que foi indicado aos Oscars de roteiro original e direção. Há quem enxergue no filme uma reflexão ética sobre o mundo dos espetáculos, mas eu só vejo uma comédia das boas com pelo menos uma cena antológica da carreira do diretor (é impagável a cena em que ele e Mia amarrados juntos se contorcem para se livrar das cordas). Broadway Danny Rose é uma delícia de filme e até quem não curte o estilo do diretor deve se divertir bastante com as desventuras do casal protagonista embalado por música italiana...
Broadway Danny Rose (EUA/1984) de Woody Allen com Woody Allen, mia Farrow, Nick Apollo Forte e Milton Berle. ☻☻☻
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