Pitt e McNairy: protagonistas dos melhores momentos do filme.
O diretor neozelandês Andrew Dominik já soma três filmes no currículo, sendo que o segundo (O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford/2007) pode até vir a ser considerado um clássico nas próximas décadas. Enquanto isso não acontece ele pode desfrutar da amizade de um dos maiores astros de Hollywood, grato depois do convite para interpretar o lendário Jesse James que lhe rendeu o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza. Brad Pitt e Dominik chamaram a atenção da mídia quando divulgaram estar trabalhando em um novo longa metragem. Pena que no fim das contas o filme deixa aquele gosto insosso de decepção. Baseado no livro de George V. Higgins (chamado Cogan's Trade) o filme foi exibido em Cannes como uma espécie de alegoria criminal da era Obama. O filme transborda ironia, cinismo e violência, mas quem curtiu o filme anterior de Dominik deverá se perguntar por que o diretor resolveu trocar sua análise sutil dos personagens na sociedade que os cerca por tanta pompa. É visível como o diretor tem gosto em criar cenas estilosas para os momentos mais violentos (Ray Liotta é espancado em câmera lenta para pouco depois ser morto num espetáculo de tiros e estilhaços de vidro). A impressão é que o diretor quis brincar de Quentin Tarantino, mas esqueceu de criar personagens fortes ou interessantes o suficiente para que a plateia pudesse se envolver com suas trajetórias. Parece que ao invés disso, se preocupou a mesclar discursos políticos da história americana recente com os fatos da missão de um matador de aluguel. Frank (Scoot McNairy) e o viciado Russell (Ben Mendelsohn) são amigos e são convidados a se tornarem bandidos pés de chinelo a convite de Johny Amato (Vincent Curatola). O plano consiste em assaltar uma sala de jogos clandestinos administrada por Markie Trattman (Ray Liotta) e deixar que a culpa recaia sobre o próprio Trattman que, anos atrás, assaltou sua própria casa de jogo frequentada por mafiosos. Desde o início fica claro o amadorismo de Frank e Russell (e que Trattman está fadado à tragédia). As consequências do assalto devem piorar quando chegar à cidade o temido Jackie Cogan (Pitt), um temido matador da máfia que está disposto a descobrir quem foram os dois "garotos" que assaltaram o local. Apesar do bom elenco, Dominik não consegue trabalhar a tensão como deveria. Para cada cena angustiante, existem outras que parecem estar sobrando ou se estendendo mais do que deveriam (como a cena de Russell doidão esboçando que pode ter posto tudo a perder ou os diálogos sobre prostitutas). O diretor capricha na construção de um ambiente de American Way of Life falido perseguido por viciados, prostitutas e bandidos perambulando por ruas e prédios decadentes (mordazmente pontuados por mensagens de esperança das eleições no Tio Sam). A trilha sonora também merece atenção, sempre soando irônica ao que vemos na tela, mesmo assim, tenho a impressão que falta vigor ao conjunto de elementos que o filme apresenta. Não entendi muito o que James Gandolfini faz durante o filme e achei abrupta a cena final em que Pitt deve fazer a glória dos antiamericanos, no entanto, nada parece coerente no jogo de cena onde traições, assassinatos e golpes em geral são motivados pelo vil metal. A ideia pode ser criar um olhar bruto sobre a política sócio-econômica dos EUA, mas o filme nunca decola. Muita gente vai curtir o assassino cool de Brad Pitt, mas no fim das contas eu ainda acho que ele é apenas um coadjuvante do novato Scoot McNairy (que também estava bem como um dos reféns fugitivos de Argo). Um rapaz que merece atenção e que já tem sete (!) filmes prometidos para esse ano.
O Homem da Máfia (Kill Them Softly/EUA-2012) de Andrew Dominik com Brad Pitt, Scott McNairy, Ray Liotta, Ben Mendelsohn e James Gandolfini. ☻☻
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