Evans: mudando o status quo?
É sempre estranho quando filmes interessantes e cheios de ideias não alcançam o sucesso esperado. Lançado em 2013 em países como Coreia do Sul (terra do seu diretor) e França (terra do criador da HQ que deu origem ao filme), O Expresso do Amanhã foi lançado nos cinemas americanos em 2014 nos EUA e arrecadou pouco mais de quatro milhões e meio nas bilheterias do Tio Sam. A bilheteria minguada não deixou o filme de fora de algumas de listas de melhores lançamentos daquele ano. Dois anos depois o filme estreia no Brasil sem grande alarde, mas não ficarei admirado se com o passar dos anos o filme seja redescoberto e se torne um desses cults idolatrados como Blade Runner/1982 (que tornou-se anos depois de suas bilheterias paupérrimas) O motivo para a bilheteria decepcionante pode ser creditado ao tom incomodamente cômico impresso pelo diretor Joon Ho-Bong em algumas cenas ou à essência revolucionária que o filme carrega sob o disfarce da ficção científica. A trama conta a história de um trem gigantesco que abriga e transporta os últimos sobreviventes do planeta Terra depois que a liberação de uma substância química, que prometia manter a temperatura mais agradável, tornou o mundo num imenso bloco de gelo. O trem foi idealizado e criado pelo industrial visionário Wilford (Ed Harris), mas para que mantenha-se funcional e seguro, torna-se necessário que algumas regras sejam seguidas para que o ecossistema existente na máquia funcione perfeitamente. Algumas dessas regras iremos descobrir ao longo do filme, outras serão apresentadas pela ministra Mason (Tilda Swinton se divertindo com uma personagem que beira a caricatura). Conforme ela explica tão asquerosamente bem, a sociedade que mantém o trem funcionando é formada por pessoas diferentes que vivem em vagões diferentes e de estruturas distintas, qualquer ameaça à ordem estabelecida dos vagões deve ser coibida. Quem pertence ao último vagão, jamais terá o direito de ir para os outros e, ainda assim, deverá agradecer pela chance de estar vivo (ainda em condições que beiram a indigência). Porém, existe um movimento crescente de insatisfação com as condições de vida no último vagão, liderados por Gilliam (John Hurt) e organizados por Curtis (Chris Evans), um grupo de sobreviventes tentará chegar ao primeiro vagão e convencer Wilford de que algumas regras do trem precisam ser revistas. Assim, os personagens partem por um jornada violenta dentro do trem, onde o objetivo é modificar a estrutura existente entre os habitantes, mas, a tarefa será mais complicada do que imaginam - e quando chegarem no limite da missão, tudo pode se tornar ainda mais surpreendente. Joon Ho-Bong faz uma obra curiosa, violenta, cruel e incômoda, mas não perde de vista a simbologia que difere O Expresso do Amanhã da grande maioria dos filmes de ação que chegam aos cinemas. O trem gigantesco, reflete com perfeição vários aspectos que observamos num mundo globalizado, da necessidade de criar um ambiente sustentável até a necessidade de manter uma ordem que favorece somente alguns. Baseado na HQ Le Transperceneige criada por Jacques Lob e Benjamin Legrand, o mundo pós-apocalíptico do filme utiliza toques de fantasia para disfarçar o que há de mais real em sua história. Vale a pena conferir o filme que figurou nas lista mais atentas de melhores lançamentos de 2014 (e foi assim que o descobri), além de suas qualidades de produção, ainda conta com uma atuação memorável de Tilda Swinton envolta de ideias que ficarão em sua cabeça por bastante tempo.
Tilda: a razão de um sapato jamais ficar na cabeça.
O Expresso do Amanhã (The Snowpiercer/ Coréia do Sul - República Checa/2014) de Joon Ho-Bong com Chris Evans, Tilda Swinton, Kang Ho-Song, John Hurt, Jamie Bell, Ocatavia Spencer, Ed Harris e Alison Pill. ☻☻☻☻
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