Zumbis? Não, apenas um efeito colateral de uma droga.
Ouvi falar desse filme quando foi citado numa lista de melhores histórias de terror do século XXI. Na verdade não era citado o filme inteiro, apenas um dos vinte e seis curta metragens que o compõem, um para cada letra do alfabeto. Por acaso, a tal história citada é justamente a última apresentada a correspondente à letra Z: uma mulher que fica grávida por mais de treze anos, se alimentando de uma estranha raiz que mantém o feto crescendo dentro dela por todo esse tempo até que o marido retorne para buscá-la. Essa ideia absurda é apenas uma das que perpassam todo o filme. Desde o início a produção explica que convidou diretores de origens distintas (do Brasil inclusive) para filmarem os curtas, sendo que lhes conferiu plena liberdade criativa. O resultado é obviamente irregular e desigual, mas entre as histórias existem verdadeiras pérolas. Na verdade as histórias não precisam ser de terror, apenas que tenha como desfecho a morte de um personagem, desde que utilize esse critério somado a durar cerca de dois minutos, vale tudo! Sendo assim, enquanto algumas histórias conseguem ser bastante eficientes no pouco tempo de duração (como os dois amigos perdidos numa ilha que precisam lidar com a presença de uma garota), existem outras bastante preguiçosas (a da família oriental querendo matar a matriarca está entre as piores), outras que parecem trechos de uma obra maior (como o trio na roleta russa) ou até um comercial (como o de Vincenzo Natalli sobre uma sociedade utópica onde somente os belos merecem viver). Alguns desperta até a curiosidade de ver uma história maior, como da jovem que observa de sua janela um prédio onde os moradores se matam (que remete diretamente ao clássico Janela Indiscreta), outros são mais dramáticos como o curta brasileiro sobre o homossexual torturado que recebe uma ajuda inesperada ou da paraquedista em apuros. Outros se beneficiam de uma atmosfera certeira de suspense (como a do marido que conversa com a esposa enquanto a casa é invadida e o diretor utiliza o recurso de tela dividida com maestria) ou divertidos (como a mulher julgada por matar zumbis em legítima defesa). Existe também espaço para a fantasia de ver dois garotos que percebem que o mundo de seus brinquedos é mais sombrio do que poderiam imaginar. Diante de tantas mentes criativas, as histórias menos interessantes ficam por conta das mais sanguinolentas que não conseguem enxergar fora do lugar comum dos milhares de filmes trash já realizados (como da dupla de amigos que morrem diante da câmera do celular, mas a maior decepção fica por conta das animações ou da menina com asas de borboleta), todas muito ruins e confusas em suas propostas, conseguindo ser apenas esquecidas ao final das contas. ABC da Morte 2 tem histórias para todos os gostos e revela-se uma boa iniciativa para conhecer novos talentos do gênero - e em DVD ainda tem a vantagem de poder vê-lo aos poucos, sem tornar o programa cansativo, além disso, deixa claro que o terror funciona melhor quando seu contexto aparece bem construído e não apenas com sangue jorrando na tela.
ABC da Morte 2 (ABCs of Death 2 / EUA-Nova Zelândia- Israel.../2013) de Julian Barratt, Vincenzo Natalli, Bill Plympton... com Beatrice Dalle, Martina García, Alex Chung, Patrick Daniel e Francisco Barreiro. ☻☻
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