Firth e Egerton: a arte de lutar sem perder a elegância.
De vez em quando surge um diretor que parece acertar na medida do gosto de uma geração de jovens cinéfilos. No século XXI esse sujeito parece ser Matthew Vaughn. O homem que ficou conhecido como produtor dos primeiros (e saborosos) filmes de Guy Ritchie e que estreou na direção com o elogiado Nem Tudo é o que Parece (2004), dedica-se desde então a adaptar quadrinhos para as telas. Mas Vaughn é esperto o suficiente para sempre fugir do trivial, foi assim com Stardust (2007) que pouca gente deu a devida atenção pelo seu tom irônico e elenco cheio de estrelas (mas tendo como protagonista o então desconhecido Charlie Cox - hoje famoso por ser o Demolidor da série Netflix). Depois causou polêmica com a versão saborosamente hardcore de Kick-Ass (2010) para a telona e, ainda assim, cravou indicações importantes em premiações europeias (como no European Film Awards). Com a tarefa bem feita, Vaughn foi convidado a dirigir X-Men-Primeira Classe (2011), filme que colocou a franquia mutante novamente nos eixos e que muitos consideram o melhor filme dos heróis. Porém, parece que o talento de Vaughn fica ainda mais evidente quando ele é substituído, basta ver a porqueira que virou Kick-Ass 2 (2013) ou as críticas que sofreu X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (2014), mesmo o criador da franquia (Brian Singer) no comando. Ao que parece Vaughn não curte dirigir sequências de seus trabalhos, preferindo a liberdade de criar um universo a cada filme. Em Kingsman ele adapta a HQ de Mark Millar e Dave Gibbons (lançada em 2012) e cria um dos filmes mais divertidamente violentos dos últimos tempos (antes acho que só Kick-Ass estava à altura). O filme conta a história de um grupo de espiões impecavelmente vestidos, que atendem por codinomes inspirados nos Cavaleiros da Távola Redonda (aqueles dos contos do Rei Arthur). Com a morte de Lancelot (Jack Davenport) está aberta a seleção de um novo agente e Harry Hart (Colin Firth), ou melhor, Galahad, indica o filho adolescente de um antigo colega que morreu em serviço. Eggsy (o bom Taron Egerton) terá que disputar a vaga com outros jovens, cada um deles indicado por um membro do grupo secreto Kingsman. Além desse processo de iniciação, o filme ainda acompanha os planos do empresário Valentine (Samuel L. Jackson) para se tornar um dos maiores vilões da história do planeta. Poucos diretores conseguiriam manter o pique durante as mais de duas horas de exibição, com efeitos especiais bacanas, personagens carismáticos, cenas de ação mirabolantes e lutas inacreditáveis protagonizadas por Colin Firth. A escolha de Firth supreende, mas mostra-se um grande acerto como o mentor de Eggsy. A elegância do ator, apresenta Harry como um verdadeiro cavalheiro pode ser herói e não perder a pose (ou os óculos). Das piadas com o jeito britânico de ser misturado com o universo dos espiões (James Bond é visível entre os apetrechos ou na sugestiva cena final), passando pelo charme de ter seus personagens chamados de Arthur (Michael Caine), Merlin (Mark Strong) ou até ... Gazelle (vivida pela inacreditável argelina Sofia Boutella), Kingsman nos faz até esquecer a forma meio torta como aborda as desigualdades sociais ou como poderia ser um pouco mais enxuto em suas guinadas sucessivas. Com esses poucos deslizes contornados magistralmente, ao final da sessão, Vaughn deixa a sensação que, pelo menos dessa vez, ele poderia dirigir uma sequência esperta de sua cria. A galera agradece!
Kingsman - Serviço Secreto (Kingsman - The Secret Service / Reino Unido-2015) de Matthew Vaughn com Colin Frith, Taron Egerton, Samuel L. Jackson, Mark Strong, Michael Caine, Sofia Boutella, Sophie Cookson e Edward Holcroft. ☻☻☻☻
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