Oscar: aula de política na HBO.
Sempre tenho a impressão que depois que Crash (2004) derrotou o favorito O Segredo de Brokeback Mountain (2004) na categoria de melhor filme no Oscar, ele ganhou automaticamente o ódio de uma legião de cinéfilos. Anos depois, ele sempre aparece em listas dos piores ganhadores do Oscar de todos os tempos. Quem sofre com o tom amargo dessa crítica é Paul Haggis, que viu seu longa ir do posto de um dos mais elogiados do ano ao lugar de um dos mais criticados da história do prêmio da Academia. É verdade que o filme de Haggis não é perfeito, mas está longe de ser a catástrofe que sugerem. Depois de Crash, Haggis dirigiu outros dois filmes que não mereceram muita atenção e que só fazia com que seus críticos ressaltassem que ele é melhor roteirista do que diretor. Talvez, um tanto cansado de tudo isso, Haggis investiu na nova minissérie da HBO, Show me a Hero, que investe em alguns pontos que o famigerado Crash também abordava, mas sem a necessidade de ser conciso e coerente em quase duas horas de duração com uma dezena de personagens que se cruzam em cena. Show me a Hero tem oito episódio, três já foram ao ar nas noites de domingo na HBO Brasil e, ao que parece, o diretor quer provar que é melhor do que seus críticos sempre insistem em dizer. A trama é baseada na história real de Nick Wasicsko, que tornou-se prefeito da cidade de Yonkers, Nova York, aos 28 anos, tornando-se o prefeito mais jovem eleito para uma grande cidade americana, enfrentando um grande dilema quando sua cidade viu-se obrigada a criar casas populares para as classes menos favorecidas. A obediência de Wasicsko despertou o ódio de vários moradores da cidade que tinham receio dos moradores dos conjuntos habitacionais trazerem violência e drogas para as redondezas. Em Show me a Hero, Wasicsko é interpretado por Oscar Isaac (em atuação premiável) que demonstra obediência e resignação diante da ordem judicial (traindo um dos pontos principais de de sua campanha), mas que ao mesmo tempo, percebe que a ordem serve de instrumento para que seus concorrentes manipulem a situação com vista às novas eleições. Capitaneados pelo vice-prefeito Hank Spallone (Alfred Mollina), alguns vereadores criaram oposição ao projeto das casa populares, começando uma espécie de guerra entre os moradores e políticos da cidade. Entre protestos, multas diárias e ameaças de prisão, Wasicsko tenta manter a calma e superar a maré de azar que seu primeiro ano de mandato atravessou. Haggis utiliza a situação para mostrar como o jogo político é mais complexo do que a maioria dos eleitores percebe, não se tratando de apenas mocinhos e vilões, mas de diversos interesses que estão em jogo pelo poder. Nisso, a população é menos ouvida e mais manipulada diante das situações apresentadas. Paralela à luta de interesses na prefeitura, o programa mostra o cotidiano das pessoas comuns que são vistas com tanto receio pela população dos bairros centrais de Yonkers. Além de Oscar Issac e Mollina, a minissérie ainda conta com atuações competentes de Catherine Keener (como uma senhora de cabelos grisalhos), Jon Bernthal e Bob Balaban, mas o peso recai mesmo é sobre os ombros de Isaac que mostra-se cada vez mais seguro em cena. O interessante é que tanto aqui como no excepcional O Ano Mais Violento (2014), o ator faz lembrar muito o estilo de Al Pacino em capturar nossa atenção com uma tensão que transborda no olhar e torna palavras dispensáveis. Ao que parece, a escalação de Oscar é fundamental para que Haggis alcance seus objetivos para emular o tom de sua narrativa calcada na urgência dos clássicos políticos das décadas de 1970/1980 e abandonar a pecha sensacionalista de Crash. Em Show me a Hero, a política emerge como o centro da narrativa, mostrando que ela pode servir a poucos e criar uma ilusão sobre a realidade aos menos atentos.
Show me a Hero (EUA/2015) de Paul Haggis, com Oscar Isaac, Alfred Mollina, Carla Quevedo, Catherine Keener, Bob Balaban, Winona Ryder, Jon Bernthal e Marisol Sacramento. ☻☻☻
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