Strange Fruit: reencontro vinte anos depois.
Ainda que não tenha conquistado sucesso no Brasil, a comédia roqueira Ainda Muito Loucos conseguiu relativo sucesso no mercado mundial e ainda foi lembrado em duas categorias do Globo de Ouro em 1999 (Melhor Filme de Comédia ou Musical e Melhor Canção Original). A trama conta o reencontro de uma banda de rock fictícia após receber o convite para participar de um festival. Ao que parece a banda Strange Fruit sempre teve problemas de relacionamento e, após uma desastrosa apresentação no mesmo festival vinte anos atrás anunciou-se o fim à banda. Marcada por excessos, a carreira da trupe teve um fim precoce e cabe ao tecladista Tony Costello (Stephen Rea com sua mesma cara de sempre) reunir o grupo mais uma vez duas décadas depois. O filme de Brian Gibson não tenta ser mais do que uma cômica lavagem de roupa suja, brincando com vários clichês dos veteranos do rock que de vez em quando retornam do limbo do rock. Entre os personagens o mais interessante é o vocalista afetado Ray Simms vivido por Bill Nighy (que em 2003 fez personagem semelhante no insosso Simplesmente Amor). Nighy tem o physique du role para viver o roqueiro aposentado que cansou das comparações com o vocalista anterior (como lembrei do Van Halen) e que tenta reerguer a carreira solo ao lado da esposa perua - que detesta os ex-colegas de banda. As letras melosas calcadas nas melodias de bandas hardcore dos anos 1970 e 1980 rendem um repertório convincente para uma banda que envelheceu mal, não consegue se entender, mas quer algum reconhecimento pelos seus anos de glória. O filme conseguiu reunir um grupo de atores ingleses sensacionais (como Timothy Spall como o mais doido do grupo, Billy Connolly e Jimmy Nail como o mais sentido por perder os vocais para Simms) para dar corpo a banda e seus conflitos, o roteiro constrói um road movie inofensivo calcado nos shows que a banda faz pela Europa para provar que merece uma segunda chance perante uma nova geração de possíveis fãs. Entre um membro desaparecido, um jovem guitarrista substituto, o fantasma do ex-vocalista falecida, a presença constante da agente e companheira Karen (Juliet Aubrey) e o assédio maldoso da impresna, Ainda Muito Loucos se alimenta de uma certa nostalgia, sem perder o tom de ingenuidade que, por vezes, soa um tanto forçado. A direção de Brian Gibson não se arrisca, mas tem o mérito de transformar as apresentações do grupo em momentos onde o inesperado pode acontecer e atrapalhar tudo - principalmente quando eles ainda tentam entender o público roqueiro da virada do século XX para o XXI. Pode não ser inesquecível, mas serve como um simpático passatempo.
Ainda Muito Loucos (Still Crazy/Reino Unido - 1998) de Brian Gibson com Stephen Rea, Bill Nighy, Timothy Spall, Jimmy Nail, Juliet Aubrey e Bruce Robinson. ☻☻☻
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