Kerry e Mark: toda quarta-feira...
Lembro com bastante clareza de quando estreou o drama romântico Intimidade e foi gerada uma polêmica danada. A polêmica girava em torno das cenas de sexo protagonizadas pela dupla Mark Rylance e Kerry Fox, dois atores renomados que conferem credibilidade a um filme perigoso. Rylance é pouco conhecido nos cinemas, mas é um dos atores mais premiados do teatro inglês, já a escocesa Kerry ficou famosa como a vertente feminina de Cova Rasa (1994) de Danny Boyle, mas foi aqui que ela ganhou um dos prêmios mais importantes do cinema, o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim. O festival ainda conferiu ao filme os prêmios de melhor filme e melhor filme europeu. Assinado por Patrice Chéreau, o mesmo do excepcional Rainha Margot (1994), Intimidade causa grande estranhamento em seu início, onde somos apresentados aos amantes que se encontram sempre às quartas-feiras para fazer sexo sem dizer nada sobre si (nem ao menos o nome). Depois de algumas cenas tórridas, somos apresentados às particularidades de cada personagem. Descobrimos que ele chama-se Jay e trabalha num bar enquanto tenta se recuperar do fantasma do divórcio e o distanciamento dos filhos, além de lidar com o fracasso de sua carreira como músico e a presença de um novo funcionário, Ian (Phillipe Calvario) que ainda precisa aprender as manhas da profissão ao balcão. Com o tempo, a distância emocional de sua amante começa a incomodar Jay, que descobre aos poucos a vida paralela que ela sustenta quando não estão juntos. São nesses momentos que o filme alcança seu ponto mais alto, ao desviar-se dos clichês com maestria, constrói um grande abismo emocional entre seus personagens - e não falo só de Jay e Claire. Enquanto Jay se depara com dilemas que nem imaginava, Claire vivencia uma sensação de pânico ao ver seus dois universos colidirem de forma definitiva (e com risco de gerar mudanças não desejadas). O mais interessante do filme é que passado o estranhamento das cenas tórridas iniciais (encenadas de forma desglamourizada, realistas e com jeito quase improvisado), o filme busca emoções mais sutis - e que os amantes hesitavam sentir. Tirando a presença confusa do amigo de Jay, Victor (Alastair Galbraith) - que por um enorme mistério não acrescenta nada de produtivo à trama - o filme funciona muito bem. Intimidade não é para todos os gostos, mas será uma experiência emocionalmente densa para quem assistir (muito se deve aos textos de Hanif Kureishi adaptados por Chéreau e Anne Louise Trividic) e enxergar nele uma ode à necessidade humana de criar vínculos afetivos.
Intimidade (Intimacy / França - Alemanha - França - Reino Unido / 2001) de Patrice Chéreau com Mark Rylance, Kerry Fox, Timothy Spall, Phillipe Calvario e Marianne Faithful. ☻☻☻☻
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