Copley: camarões espaciais e discurso engajado.
Quando Neil Blomkamp surgiu para o mundo com a ficção científica Distrito 9 houve um consenso que se estava diante de uma obra capaz de injetar novas cores ao gênero para o século XXI. Fazia tempo que um filme não conseguia inserir tantos comentários sociais num universo com seres espaciais. Blomkamp criou um alegoria sobre a exclusão social, sendo que ao invés de mostrar pobres vivendo em condições degradantes, ele utiliza alienígenas para falar da nossa sociedade globalizada e a exploração da pobreza (assim como as desastrosas medidas utilizadas para mantê-la à margem). Contado num formato quase documental, o filme conta como a sociedade (não por acaso em Johannesburgo, na África do Sul, terra do diretor e a cidade mais violenta do mundo na época) mudou diante da chegada de uma gigantesca nave espacial na década de 1980 - e que permanece parada sobre a cidade, enquanto seus passageiros extraterrestrs vivem entre os humanos no chamado Distrito 9. Apresentado como uma grande favela, o 9 serve de abrigo para os aliens impossibilitados de voltar para seu planeta natal - ali vivem alimentando-se de comida para gatos e despertando a cobiça de traficantes sobre seus apetrechos intergalácticos. Diante da grande confusão que se tornou a convivência dos "camarões" (apelido nada carinhoso dedicado aos visitantes espaciais), o governo decide que eles devem ser removidos para um outro lugar, o Distrito 10 (quem conhece a história da Cidade de Deus ou de Nova Sepetiba no estado do Rio de Janeiro reconhece fácil essa medida governamental). Encarregado desse procedimento, o funcionário da Multinational United chamado Mikus van der Merwe (Sharlto Copley), termina contaminado no meio da desapropriação do Distrito 9 e seu corpo passa a sofrer transformações que farão com que ele sinta na pele as dificuldades de ser excluído socialmente. Curiosamente, o filme foi lançado no mesmo ano de Avatar (e ambos concorreram ao Oscar de melhor filme), os dois partem de um ponto semelhante, ainda que sigam direções opostas. Embora os dois filmes caminhem para o espetáculo, o filme de Blomkamp tem a vantagem de criar uma ficção científica ultrarrealista, seja em sua fotografia digital e nos efeitos especiais crus que dão incrível credibilidade às cenas ou à abordagem de uma temática inusitada que consegue ser bastante pertinente diante do que vemos nos telejornais todos os dias. Há de se exaltar ainda a atuação de Copley - que é muito mais interessante que a apresentada em seus trabalhos posteriores (que nunca valorizam a sua versatilidade ou carisma). Ao final, Blomkamp deixa o caminho aberto para uma sequência que ainda não saiu do papel (e talvez nem esteja nele), mas que permite aos dessa pérola o desejo de ver um pouco mais dessa alegoria socialmente engajada.
Distrito 9 (District 9 / EUA - Nova Zelândia - Canadá - África do Sul/2009) de Neill Blomkamp com Sharlto Copley, Jason Cope e John Summer. ☻☻☻☻
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