Chappie: melhor deletar...
Recentemente o diretor sul africano Neill Blomkamp recebeu aval para dar prosseguimento à saga Alien com direito à tenente Ripley e todo o resto. Essa é uma ótima notícia para os fãs do monstrengo, já que faz tempo que o personagem anda merecendo respeito. Além disso, por mais que eu curta Prometheus (2012), compreendo a frustração dos fãs com a ficção científica apresentado por Ridley Scott como prequel da série. Existe um consenso de que Blomkamp tem tudo para realizar um bom trabalho, já que, dos diretores atuais, mostra-se um grande amante de sci-fi. Sempre vale a pena lembrar que o rapaz fez Distrito 9 (2009), um dos melhores filmes do início do século XXI e indicado a 4 Oscars (incluindo Melhor Filme). Neill também não decepcionou em Elysium (2013), deixando evidente sua preocupação de usar o gênero para abordar questões sociais. Em Chappie ele tenta repetir a mesma desenvoltura, mas eu considero o filme decepcionante. Sei que o filme é um dos mais vistos ao redor do mundo atualmente, mas a abordagem de Neill é um desastre, sendo assim, o resultado é, no máximo, desengonçado em suas referências que vão de Short Cirtuit (1986) ao clássico Robocop (1987) - chega a ser engraçado que depois do remake cometido pelo brasileiro José Padilha no ano passado, o filme de Paul Verhoeven ainda tenha que lidar com esse aqui. Ambientado em Johannesburgo num futuro próximo, robôs policiais são responsáveis pela segurança das cidades. Na empresa que os fabrica trabalham o jovem idealista Deon Wilson (Dev Patel) e o agressivo Vincent Moore (Hugh Jackman). Enquanto Deon pensa em criar um robô com consciência para escrever poesia, Vincent tenta vender a ideia de um robô ainda mais poderoso no combate ao crime (cujo até o design parece com do ED-209 do filme de Verhoeven) para a dona da empresa, Michelle Bradley (a tenente Ripley em pessoa, Sigourney Weaver). No entanto, o experimento pacifista de Deon acaba caindo nas mãos de bandidos e sendo batizado de Chappie (algo como "chapa" em inglês). Chappie é inofensivo, parece uma criança descobrindo o mundo ao seu redor, pena que ele conta com a ajuda de Amerika (Jose Pablo Castilho), Yolandi (a rapper Yo-Landi Visser) e Ninja (vivido pelo parceiro de Yo na vida real: Ninja) para lhe mostrar o mundo de crimes e contravenções, ao ponto dele quase ser destruído no seu "rito de iniciação". Assim, o filme mostra uma família incomum, com Chappie sendo treinado para tornar-se um ladrão ou assassino, por aqueles que ele chama de pai (Ninja) e mãe (Yolandi) - por mais que o seu criador o ensine a não agir contra as leis (percebeu as metáforas óbvias do roteiro?). No fim das contas o comportamento de Chappie irá trabalhar a favor do projeto de Vincent no combate ao caos que a cidade se tornará. Além disso, o filme não decide se volta-se para o público infanto-juvenil (a voz de Sharlto Copley caminha para isso) ou adulto (já que a violência é bastante sanguinolenta), criando um grande desequilíbrio na tela entre dilemas éticos, morais e cinematográficos que nem vou me deter aqui. Porém, posso dizer que fica difícil engolir o trio marginal que cuida de Chappie, já que são tipos barra-pesada demais para merecer a simpatia da plateia (além de Yo e Ninja serem atores bem sofríveis). Para piorar, o roteiro se estende demais para dar um final feliz aos personagens que nem interessam tanto. Ainda que faça sucesso, Chappie é um tropeço na carreira de Blomkamp. Retornando à estética crua de sua estreia em Distrito 9, ele erra justamente ao considerar que o fato de seus personagens serem bandidos pobres tornam-se dignos de torcida. Talvez se houvesse explorado mais como se organiza uma sociedade dependente de robôs para manter a paz, ele até conseguisse. Nisso, nem a analogia do robô com uma criança abandonada à mercê da bandidagem salva o filme, já que perde a sutileza logo no início e torna-se uma caricatura risível das críticas sociais que o diretor almeja realizar.
Chappie (EUA-México-África do Sul/2015) de Neill Blomkamp com Charlto Copley, Dev Patel, Hugh Jackman, Sigourney Weaver e Yo-Landi Visser. ☻
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