sexta-feira, 1 de maio de 2015

KLÁSSIQO: Gigolô Americano

Gere: como se tornar um astro

Acho que Gigolô Americano deve ser o clássico mais controverso da década de 1980. O terceiro filme de Paul Schrader foi o que marcou seu nome enquanto cineasta, já que até ali era mais conhecido como roteirista - tendo no currículo Taxi Driver (1976)  e Touro Indomável (1980), ambos dirigidos por Martin Scorsese. Gigolô Americano dividiu opiniões em sua estreia... e quem conhece o trabalho de Schrader logo percebe o motivo, já que existe um desequilíbrio nos três atos de sua narrativa, onde se percebe a mão de produtores que preferiam atenuar o que o filme tinha de mais sombrio. Schrader gosta de desenvolver personagens obscuros que flertam com o submundo, por isso mesmo, contar a história de um homem bem vestido, que se prostitui somente com ricaças - enquanto é cobiçado por homens e alguns pervertidos - é a cara do universo Schraderiano. Acrescente a isso o bom senso de perceber em Richard Gere o potencial para tornar seu personagem num sucesso. Quando o filme foi lançado, Gere tinha completado 31 anos e estava em seu sexto trabalho no cinema. Ainda pouco conhecido do grande público, ele havia participado de pelo menos dois filmes importantes na década de 1970, o cultuado Cinzas do Paraíso (1978) de Terrence Mallick e Os Yankes estão Voltando (1979) de John Schlesinger. Embora tenha trabalhado com diretores de respeito, seus dotes como ator nunca foram levados muito a sério pelos críticos. Seu estilo introspectivo e até distante de atuar, sempre parecia um problema para os mais exigentes. No entanto, o seu jeito serve à perfeição para viver Julian, o gigolô do título que vive como um milionário e faz serviços para mulheres endinheiradas - algumas casadas com políticos e empresários influentes. É interessante como o filme exala em seu início um estilo de vida glamouroso em torno de Julian:  mora num hotel de luxo com roupas impecáveis, carro luxuoso - com direito a uma música exclusiva do Blondie tocando sempre que o tira da garagem ("Call Me" que foi indicada ao Globo de Ouro e tornou-se um clássico da banda). Com estampa da estátua de Davi  e um estilo de vida caro para bancar, Julian quer sempre mais, sendo assim, sua ambição colocará em risco todo esse glamour. Ele acaba se tornando suspeito do assassinato de uma cliente e não podendo revelar seu álibi (e comprometer outra cliente), sua profissão está comprometida para sempre. Ironicamente, nesse trajeto, ele conhece Michelle (a ex-modelo Lauren Hutton) e se apaixona. Apesar do romance não ser muito bem desenvolvido (esse não é o interesse dos textos de Schrader), ele recebe um caráter redentor conforme Julian descobre que colecionou inimigos em seus anos de profissão.  Até esse ponto, o filme de Schrader é bastante coerente em sua proposta, mas quando chega a hora de concluir a história, a necessidade de agradar o púbico feminino torna tudo um tanto patético. A cena final do cafetão Leon (Bill Duke) beira o pastelão e segue-se planos de curta duração sobre o desfecho da investigação sofrida por Julian até uma das cenas finais mais forçadas da história do cinema. Gigolô Americano funciona bem enquanto consegue ser irônico na abordagem de como o sexo sustenta a vida luxuosa de seu protagonista, dando-lhe tudo que ela tem de mais caro, mas que gera rejeição quando o moralismo entra em cena. Porém, as intenções incendiárias perdem fôlego diante da necessidade de amenizar as cores mais desagradáveis de sua trama. Se alguém se deu bem com tudo isso foi Richard Gere, que desde então passou a ser adorado pela mulherada.

Gigolô Americano (American Gigolo/EUA-1980) de Paul Schrader, com Richard Gere, Lauren Hutton, Bill Duke e Hector Elizondo. ☻☻

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