Nick e Meg: discutindo a relação em Paris.
Considero a carreira do diretor sul africano Roger Michell uma das mais curiosas do cinema recente. Afinal, ele ficou conhecido por sua direção no sucesso Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) e depois prestou serviço à Hollywood com o subestimado Fora de Controle (2002) e Um Final de Semana em Hyde Park (2012), no entanto, ele demonstra sua voz nas produções inglesas que dirige , especialmente as escritas por Hanif Kureishi. Foi dessa parceria que nasceram os instigantes Recomeçar/2003 (que conta com uma atuação arrasadora da veterana Anne Reid), Vênus/2006 (que rendeu a última indicação ao Oscar de Peter O'Toole aos 74 anos) e agora esse Um Fim de Semana em Paris/2013. Nos três filmes, pode-se enxergar até uma trilogia onde a dupla explora a terceira idade sobre perspectivas tão intimistas quanto reveladoras. Aqui o foco é um casal que depois de décadas de casamento resolve reviver a lua de mel em Paris - chegando a alugar um quarto no mesmo hotel da ocasião. No entanto, ao chegar lá, a decepção é grande ao perceber que ele sofreu uma reforma - ou talvez, ele fosse realmente bem menos acolhedor do que parecia na confortável lembrança dos tempos idos. Os dois acabam tendo a primeira discussão e a temporada parisiense parece destinada ao fracasso. A verdade é que essa frustrante tentativa de resgate do início do casório, Nick (Jim Broadbent) e Meg (Lindsay Duncan) não sabem se realmente se amam, ou se apenas acostumaram com a companhia um do outro. Longe do conforto do lar, no anonimato de uma terra estrangeira, alguns sentimentos que pareciam abafados resolvem vir a tona - estes chegam desengonçados, num misto de carinhos, ressentimentos e um pouco de crueldade. É engraçado como o filme consegue parecer tão realista ao mostrar como flui os dias do casal banhado em uma intimidade ofensiva, capaz de gerar comentários que só os mais íntimos e queridos são capazes de suportar (até chegar ao limite pouco previsto). Existem diálogos muito divertidos (como o comentário sobre os lençóis usados por Tony Blair, ou quando resolvem encontrar um restaurante na cidade luz) e outros desconcertantes (como o de Meg com a jovem grávida que está prestes a casar), no entanto, nada supera a magnífica catarse de Nick e Meg na casa de um amigo (papel de Jeff Goldblum) que os convidou para jantar junto com um bando de intelectuais. Um Fim de Semana em Paris pode parecer esquisito à primeira vista por seu estilo quase frouxo, mas consegue ser muito revelador por explorar os dilemas de um casal maduro que não sabe se o casamento ainda é sustentado por amor ou comodidade. Da conexão que precisa ser refeita (ou não) entre os dois, o filme se sustenta com as atuações irrepreensíveis do oscarizado Jim Broadbent e da cada vez mais requisitada Lindsay Duncan. Duncan atua em filmes desde 1975, mas somente agora parece receber a atenção que merece. Depois de suas participações em Questão de Tempo (2013) e Birdman (2014), a atriz encontra aqui sua chance de mostrar do que é capaz - tanto que recebeu o British Independent Film Awards numa personagem aparentemente simples, mas que demonstra toda a complexidade de ser a versão mais velha do passado.
Um Fim de Semana em Paris (Le week-end/Reino Unido - França/2013) de Roger Michell com Jim Broadbent, Lindsay Duncan e Jeff Goldblum. ☻☻☻
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