Mad Men: o fim de uma era inesquecível.
Neste mês irá ao ar, pela HBO, o último capítulo de um dos seriados mais cultuados do século XXI, Mad Men já entrou para a história por todas as qualidades já exaltadas ao longo dos oito anos em que esteve no ar. Criada por Matthew Weiner (um dos roteiristas do outro clássico The Sopranos) em 2007, o programa chegou a ser oferecido para HBO e foi recusada (curiosamente ela que comproou os direitos para exibir em vários países). Considerada arriscada demais por mostrar uma época em que o politicamente correto nem existia, acabou acolhida pela então modesta AMC e tornou-se uma febre na televisão americana com seus diálogos cortantes e personagens complexos desenvolvidos lentamente dentro de uma agência publicitária da Nova York sessentista. Assim fomos apresentados aos segredos do mulherengo Don Drapper (Jon Hamm) e à ascenção da secretária Peggy Olson (Elisabeth Moss) em meio a uma dezena de personagens que transitavam numa época em que assediar no trabalho era algo tão comum quanto tomar bebida alcoólica e fumar. A reconstituição de época impecável emoldura com perfeição os figurinos que viraram moda na terra do Tio Sam. Em vários episódios mergulhamos numa viagem no tempo para acompanhar uma das décadas definitivas para a configuração do mundo como conhecemos: a chegada da TV, o assassinato de John Kennedy, a morte de Marilyn Monroe, a Guerra do Vietnã, a luta pelos direitos civis, a ascensão da mulher no mercado de trabalho, a chegada dos computadores nas grandes empresas... isso e muito mais perpassou a vida dos personagens com suas desventuras profissionais e amorosas ao longo de quase uma década. Em suma, Mad Men fez história na dramaturgia americana com sua cadência própria, lenta de emoções latentes em cada personagem. Ouso dizer que a sétima temporada (dividida em duas partes) foi uma das melhores criadas para o programa, fechando com chave de ouro uma era que deixará saudades na telinha. Porém, entre centenas de acertos houve alguns (poucos) tropeços ao longo das temporadas (e que podem dar dicas sobre como serão os últimos episódios)... aqui eu listei os cinco fatos que eu teria evitado se fosse um dos produtores:
5 Os Diminuídos
Obviamente que houve uma penca de coadjuvantes no seriado, mas Pete Campbell (Vincent Kartheiser) e Ken Cosgrove (Aaron Staton) atravessaram as temporadas tendo importância cada vez menor. Pete ainda ganhou contornos vilanescos nas primeiras temporadas, mas nas últimas, após sua separação e todo mundo descobrir o segredo de Don Draper ele não teve muito o que fazer além de sofrer um doloroso caso de calvície diante das câmeras. Já Ken teve algumas pequenas tramas paralelas, como sua carreira literária, seu casório, perder uma vista, a demissão... mas sempre suas histórias eram pequenas, quase invisíveis no rumo geral da história. Os dois poderiam ter sido mais explorados na quinta e sexta temporada que patinaram no gosto do público.
4 Saindo do armário seriado
Achei um tanto brusca a saída do personagem Salvatore Romano (Bryan Batt) do programa. O personagem que prometia retratar a forma como os homossexuais se descobriam ao longo da década de 1960 acabou fora do programa depois que Salvatore se envolveu com um camareiro de hotel - no que o jornalista James Poniewozik da revista Time chamou de "uma cena de beijo gay entre dois gays que se beijaram de uma forma bastante gay". A cena em que o personagem saiu do armário foi acusada de ter errado a mão (sem trocadilhos) e gerou tanta polêmica que acharam melhor demitir Salvatore. Se serve de consolo para os militantes, o ator Bryan Batt oficializou sua relação com Tom Cianfichi em setembro do ano passado após 25 anos debaixo do mesmo teto.
3 Quem é Dick Whitman?
Eu sei que o universo de Mad Men foi ampliado de tal maneira que pouco importava se Don Draper era realmente quem ele dizia ser, mas a angústia do personagem em esconder sua verdadeira identidade e origem humilde geraram alguns dos momentos mais emocionantes da série - como a antológica cena em que Dick pede para o irmão órfão esquecê-lo definitivamente. O segredo deu material suficiente para uma brilhante construção do ator Jon Hamm na pele de um homem dividido entre o passado tortuoso e o presente glamouroso... porém,o que era um grande segredo foi sendo revelado sem grandes comoções entre os personagens e a narrativa, sem os efeitos catastróficos que eram tão temidos por todos...
2 Mudando o tom na quinta temporada
Na quinta temporada Matthew Weiner resolveu mudar o foco da trama e deixar de lado uma trama maior que costurasse os episódios para investir no desenvolvimento individual dos personagens. A decisão que daria novo rumo à série acabou resultando em capítulos pouco coesos e sem o sabor de unidade que fazia o programa funcionar tão bem. O resultado foi que depois de quatro anos ganhando o Emmy de Melhor série dramática, o seriado perdeu em todas as categorias a que concorreu em 2012 e 2013. A mudança também lhe custou as indicações ao Globo de Ouro, que resolveu indicar somente Jon Hamm para melhor ator em 2013 - no que foi a última indicação do seriado ao prêmio desde então.
01 Esculhambando Betty Draper
Ainda na quinta temporada, por conta de desentendimentos com os produtores da série, January Jones sofreu com o seu papel de Betty Draper quase desaparecendo da história. Está certo que ela se divorciou de Don Draper e acabou casando com um político, mas sua personagem além de aparecer pouco ainda sofreu estranhas mudanças no visual, esteve gorda e até com os cabelos tingidos de preto. Disseram que isso ressaltava a crise de identidade que os personagens sofriam em meados da década de 1960... mas eu tive a impressão que era pura implicância. Betty era essencial ao lado de Don para mostrar o casamento perfeito que revela-se cada vez mais problemático. Com Betty longe de Don o seriado perdeu o seu casal mais interessante - e que melhor retratava o american way of life visto por dentro. O bom é que independente desses cinco aspectos, Mad Men é tão viciante que tornou-se uma das minhas séries favoritas de todos os tempos.
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