domingo, 17 de maio de 2015

CATÁLOGO: Primer

Carruth e Williams: abrindo a caixa de pandora. 

Conheci o trabalho do diretor, ator e roteirista Shane Carruth em Cores do Destino (2013), uma ficção científica que flerta com romance de forma bastante original e um tanto inusitada. Procurei conhecer mais sobre o trabalho do cineasta e descobri que ele dirigiu somente um longa anteriormente: Primer. No entanto, sempre que eu procurava saber mais sobre o filme encontrava mais pontos de interrogação. O fato é que, assim como em Cores do Destino, torna-se praticamente impossível falar do filme sem estragar parte da graça. Primer conta a história de dois jovens cientistas, o soturno Aaron (o próprio diretor) e Abe (David Sullivan), que criam um experimento que eles ainda não descobriram para que serve - em sua própria garagem. Trata-se de uma máquina que produz uma carga de magnetismo tão elevada que eles não fazem a mínima ideia do que ela é capaz de fazer, até que... esse é o máximo que se pode dizer sobre a história. Carruth cria uma história sobre dois sujeitos comuns que acabam se tornando cobaias e seu próprio experimento e terminam prisioneiros dele - o que traz mudanças um tanto assustadoras em suas vidas. Não fique preocupado se por boa parte da sessão você não entender o que está acontecendo, pelo que conheço do diretor, sei que é isso mesmo que ele espera do espectador - afinal de contas, assim como seus protagonistas, aprendemos sobre o experimento a medida que os fatos acontecem na história. Primer é mais enxuto que seu longa posterior, mas é igualmente complexo em sua proposta de gerar uma história de ficção científica genuína sem as concessões de alívios cômicos ou efeitos especiais mirabolantes. Com imagem digital granulada, tons esverdeados e trilha sonora minimalista, Carruth precisa pouco mais do que a edição precisa e a química dos poucos atores em cena para gerar o estranhamento que precisa. Na internet existem vários quadros que procuram explicar a linha temporal em que  ocorre a história (e é melhor conhecê-los somente depois que assistir ao filme) e tudo se torna mais curioso quando descobrimos que o filme custou apenas sete mil dólares (Cores do Destino custou cinquenta mil dólares, ainda uma ninharia até para os padrões indie)! Rodado com a ajuda de parentes e amigos, Carruth provou ser um autor cheio de ideias com sua trama de ficção científica estilosa, ainda que feita no fundo do quintal. Primer tornou-se cult e um grande sucesso em festivais de cinema independente, ganhou o prêmio do júri no Festival de Sundance em 2004, ainda premiando Shane como diretor e roteirista. Depois, o Independent Spirit lhe rendeu quatro indicações (filme, diretor, roteiro e ator estrante para David Sullivan) e serviu para tornar o diretor conhecido no meio. O filme me faz lembrar o caminho que Darren Aronofsky teria seguido se continuasse na linha de Pi (1998) e, da mesma forma, penso o que Carruth seria capaz de fazer com um orçamento de milhões de dólares. Atualmente ele desenvolve seu terceiro longa metragem (The Modern Ocean, ainda sem previsão de lançamento), o que não é nada mal para quem temia que sua estreia provocasse risadas involuntárias na primeira exibição (um risco que Primer está longe de correr sempre que for revisto). 

Primer (EUA-2004) de Shane Carruth com Shane Carruth, David Sullivan e Samantha Thomson. ☻☻☻

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