quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Na Tela: O Touro Ferdinando

Ferdinando: touro adorável. 

Desde que comecei a ouvir falar do filme O Touro Ferdinando a história não me parecia desconhecida. Eu imaginei que era uma espécie de versão do bicho para a história de Arenas Sangrentas (1956), clássico com roteiro de Dalton Trumbo disfarçado de Robert Rich (no período de caça-às-bruxas de Hollywood). Não chega a tanto. Bastou uma pesquisa na internet para encontrar um curta com o mesmo nome que assisti na televisão quando era pequeno. O fato é que nada disso interessa quando se assiste ao longa assinado pelo brasileiro Carlos Saldanha que concorre ao Oscar de Melhor Animação. Baseado no livro de Munro Leaf, não é surpresa alguma dizer que é candidato mais infantil ao prêmio da Academia. Feito especialmente para a criançada, os adultos podem até se divertir com a história, mas é para os menores que a obra será considerada mais interessante. No entanto, isto não impede que o filme toque num assunto sério e, assim como o recente Okja (2017) nos faça repensar na relação de temos com os animais, seja para alimentação ou "entretenimento". Ambientado na Espanha, Ferdinando é um touro que se despediu do seu pai ainda pequeno e nunca mais o viu. Por conta de algumas confusões ele acaba sendo encontrado e criado com todo amor e carinho por uma garotinha. Mas Ferdinando cresce e eis que um dia ele resolve ir à um festival de sua maior paixão (as flores) e, por conta de um acidente, ele acaba sendo considerado perigoso e transportado para muito longe, onde poderá se tornar o escolhido para uma tourada - o que ele descobre ser algo fatal. Pode se dizer que o protagonista é pacifista desde menino e ele se vê num dilema quando percebe que se não for bom para a arena, ele será enviado para o abate. Resta-lhe planejar a fuga. Bem cuidado visualmente, Saldanha faz um filme agitado, com muito movimento, gritaria, piadinhas, competição de dança e com isto prende atenção de uma geração que tem verdadeiro fascínio pela aceleração. Confesso que em determinados momentos eu achei a narrativa um pouco cansativa em sua histeria, mas nada que comprometa o resultado final, especialmente pelo lado sério que a história traz para a tela de cinema. É impossível não gostar de Ferdinando e alguns dos seus amigos, por isso mesmo é realmente doloroso ver um personagem tão adorável tendo uma espada apontada para a cabeça e imaginar que aquilo realmente acontece há tempos e já se tornou uma tradição cultural voltada para divertir plateias. Entre piadas e risadas, o filme pode até parecer inofensivo, mas deixa a reflexão para a plateia quando as luzes acendem. 

O Touro Ferdinando (Ferdinand/EUA-2017) de Carlos Saldanha com vozes de John Cena, Gina Rodriguez, Jeremy Sisto e Peyton Manning.
☻☻☻

Um comentário:

  1. Eu acho que é uma história com uma mensagem linda! Eu esperava ver uma animação bem feita e uma estória até triste e melancólica, mas do início ao fim o tom é positivo. Pais e filhos vão adorar os personagens e aprender preciosas lições de otimismo consciente, de bondade e amizade, enquanto se divertem a valer. Uma ótima pedida para as férias, vale o ingresso e a pipoca da família inteira. Honestamente, é um dos melhores filmes de animação que vi no ano passado. Envolvente desde os primeiros minutos, a sensível estória leva a gente a pensar sobre como encaramos nossa vida. É muito fácil se identificar com os personagens e seus dramas, e o mais surpreendente é que há tanto bom humor que o peso do contexto (um touro que tem como destino uma tourada não é nada mais do que uma alegoria da humanidade rumando para o final inevitável da morte) permanece como uma leve ameaça constante porém sem dominar os sentimentos do espectador.

    ResponderExcluir