domingo, 25 de fevereiro de 2018

Na Tela: Trama Fantasma

Vicky, Daniel e Lesley: o mais estranho do Oscar. 

Arrisco dizer que dos nove indicados ao Oscar de Melhor Filme deste ano, Trama Fantasma é o mais difícil de assistir. Este também deve ser o motivo pelo qual muita gente ficou surpresa quando a Academia de Hollywood rendeu seis indicações para o novo filme de Paul Thomas Anderson (que concorre como melhor diretor do ano) quando todo mundo só sabia repetir que se trata do último trabalho como ator de Daniel Day Lewis (eu sempre duvido quando ele diz isso - e faz tempo que ele diz, mas acho que ele não resiste quando recebe um roteiro interessante para trabalhar), que conseguiu sua sexta indicação ao prêmio (e ele já tem três em casa). O filme tem uma estética muito interessante que remete diretamente à linguagem clássica do cinema, tem uma pitadinha daqueles filmes ingleses de época que flertam com o gótico, bela fotografia, ótimo trabalha com os figurinos (também indicados), cenários, cabelos, trilha sonora impressionante (que rendeu a primeira indicação ao Radiohead Johnny Greenwood ao Oscar), mas a história mesmo você só descobre aos poucos. O personagem principal da história é o estilista Reynolds Woodcock (Daniel Day Lewis), em atividade em Londres e cultuado pela elite da Europa da década de 1960. Ele costura para nobres e milionárias que acreditam que somente ele pode deixá-las lindas e imponentes. Woodcock (achei este nome tão esquisito) trabalha junto com a irmã, Cyrill (a ótima Lesley Manville, indicada ao Oscar de coadjuvante), uma mulher forte que fala pouco, mas que sabe exatamente como lidar com o irmão, as musas e o trabalho. A história começa mesmo quando Reynolds encontra uma mulher simples, uma garçonete que logo é promovida à musa do estilista. Ela tem as medidas perfeitas que ele procurava à tempos, no entanto, isso não quer dizer que conviver com ele será uma tarefa fácil. Obviamente que por existir um certo culto em torno dele, o homem é um poço de ego e arrogância e a modesta Alma (Vicky Krieps) irá desbotar aos poucos ao ser absorvida pela rotina da casa e do trabalho de Reynolds. Neste ponto o filme parece ser uma abordagem pessimista sobre os relacionamentos, especialmente sobre a dificuldade em perceber o outro como alguém com necessidades, anseios e sonhos próprios. Woodcock não está nem aí para estas coisas. Quando você se acostuma com a história,  Alma tem uma atitude inesperada e... o filme insere seu elemento mais estranho. Embora seja um romance, Trama Fantasma conduz seus dramas fazendo suspense e não tendo vergonha de utilizar um bocado de humor negro nas entrelinhas. O resultado é tão diferente quanto envolvente. Hipnótico na verdade, já que seguimos aqueles personagens sem saber muito bem o que acontecerá no desfecho. Neste ponto, além  da embalagem pomposa, o que faz a diferença é a direção precisa de Anderson e o trio de intérpretes fascinantes. Vicky acerta na transição da personagem com bastante leveza. Lesley está espetacular em toda cena que aparece (roubando a cena com um levantar de sobrancelha no café da manhã) e Day Lewis prova mais uma vez porque é um dos melhores atores (se não for o melhor) ator em atividade. Ele desaparece no personamge, um sujeito alimentado totalmente pelo ego e que, de vez em quando, precisa de um corretivo para lembrar que é um mero mortal. 

Trama Fantasma (Phantom Thread/EUA-2017) de Paul Thomas Anderson com Daniel Day Lewis, Vicky Krieps, Lesley Manville, Camilla Rutherford, Brian Gleeson e Gina McKee. ☻☻☻  

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