quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Na Tela: Pantera Negra

Michael e Chadwick: conflitos ideológicos. 

O herói Pantera Negra da Marvel foi criado em por Stan Lee e Jack Kirby, estreando nas HQs do Quarteto Fantástico em 1952. O personagem ganhou destaque na época por se tornar o primeiro herói essencialmente africano, no caso T'Challa, rei e protetor do reino fictício de Wakanda. Seus poderes surgem por conta de um ritual que aprimora suas habilidades, tornando seus sentidos e agilidade mais aguçada (não são poucos que percebem uma relação entre o herói e o movimento dos Panteras Negras que surgiu em 1966, mas são apenas especulações). Não deixa de ser interessante como  a Marvel introduziu um personagem pouco lembrados dos Quadrinhos em seu universo cinematográfico, criando fôlego de tornar seu voo solo um verdadeiro acontecimento cultural - especialmente num momento em que todo mundo só fala dos filmes indicados ao Oscar. O  Pantera já apareceu em Capitão América - Guerra Civil (2016) e roubou a cena ao demonstrar uma personalidade que não escolhia um lado, mas resolver suas pendengas pessoais. Agora ele recebe um filme só dele e, como a Marvel se especializou nos últimos anos, abraçou um determinado gênero cinematográfico para contar esta nova aventura. Ao ser convidado para dirigir o longa, o cineasta Ryan Coogler se perguntava mais do que sobre o que era ser um herói, mas ser um herói africano de um país que preferia manter segredo sobre sua tecnologia e riqueza enquanto o mundo enfrena a miséria. Wakanda foi concebida para ser tudo o que o continente africano poderia ser, se não fosse historicamente marcada pela colonização predatória e tristes histórias de famílias destruídas e escravidão. São estes fatores que estão por trás da história. Embora Chadwick Boseman continue defendendo o herói com grande habilidade, quem rouba a cena é o vilão vivido por Michael B. Jordan (parceiro de Coogler em seus filmes anteriores) na pele do misterioso Erik Killmonger. Na pele de Erik, Michael apresenta seu melhor trabalho e coloca em cheque a legitimidade de T'Challa se tornar rei de Wakanda. Killmonger é todo fúria e ressentimento sobre um reino construído em cima de uma grande farsa. Pode se dizer que existe aqui uma oposição entre herói e vilão como a existente entre Magneto e Professor Xavier nas HQs do X-Men, que torna um tanto borrado o ponto em que o radicalismo se torna tão sedutor quanto questionável. Mas não é apenas dos dois atores que se faz o filme. Além do excelente visual embalado por uma trilha sonora esperta, o filme conta com boas cenas de ação e duas atrizes que tem atuações bem marcantes. Uma é a oscarizada Lupita N'Yongo, que tem aqui o seu papel de maior destaque desde que foi revelada em 12 Anos de Escravidão (2013). Ela imprime uma elegância ímpar ao interesse amoroso do herói, não perdendo a classe mesmo nas cenas de ação. Porém, todo mundo sabe do que Lupita é capaz, faz tempo... (pena que Hollywood ainda não sabe como lidar com ela), assim, o grande achado é Danai Gurira! Na pele de Okoye, a líder do exército feminino de Wakanda, ela cria a mistura perfeita de Grace Jones com Viola Davis. Uma mistura explosiva que lhe garantiu lugar no aguardado Guerra Infinita que estreia em abril por aqui. Com um elenco repleto de jovens astros negros, a produção ainda arranjou espaço para Angela Basset e Forrest Whitaker, para dar ainda mais peso a personagens secundários da história. No fim das contas os signos e a identidade que transbordam de Pantera Negra acabam falando mais alto do que a história de perseguição ao vilão Klaue (Andy Serkis se divertindo um bocado) que logo se torna uma mistura de pendenga familiar, vingança e busca da identidade. Embora a concepção do filme seja uma grande ousadia, o filme encontra problemas justamente quando repete aspectos que já fazem parte da cartilha da Marvel (do herói que vive o dilema de "não ser nada sem o seu traje ultratecnológico" ao destino do vilão ao final da história) e começam a criar um certo cansaço. De resto, Pantera Negra é um filme pipoca como os outros do estúdio, só que com um orgulho danado de sua negritude. 

Danai e Lupita: coadjuvantes de respeito. 

Pantera Negra (Black Panther/EUA-2018) de Ryan Coogler com Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Andy Serkis, Lupita N'Yongo, Danai Gurira, Angela Basset, Forrest Whitaker, Letitia Wright e Martin Freeman. ☻☻☻

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