Renato e Germano: dolorosa reviravolta.
Embora não tenha o mesmo apelo de décadas atrás, o cinema italiano continua produzindo filmes interessantes e vez por outra seus talentos ganham reconhecimento mundial (Luca Guadagnino que o diga - e nem estava num post que fiz sobre cineastas italianos aqui no blog). Este A Ternura de Gianni Amelio não ganhou fama mundial, mas concorreu a alguns prêmios em seu país de origem e vale um olhar mais atento do espectador. Baseado no romance A Tentação de ser Feliz de Lorenzo Marone, o filme consegue ser surpreendente pela forma como consegue contar uma história aparentemente banal que é cortada por uma tragédia sem explicação. A sensação de perplexidade transborda do protagonista da história para a plateia de forma contundente, sem apelação ou sensacionalismo. O personagem principal é Lorenzo (Renato Carpentieri) um advogado aposentado mal-humorado que sofreu um infarto recentemente. Ainda no hospital ele se recusa a conversar com os filhos e segue uma rotina solitária na casa em que viveu com a família por várias décadas. Lorenzo mora na cidade de Nápoles desde que nasceu, foi ali que criou seus filhos e viu a esposa falecer, além de viver alguns tropeços... Quem de vez em quando faz companhia para este senhor rabugento é o neto, que dialoga com o avó como se ele estivesse ali somente para satisfazer suas vontades infantis. Os dias de Lorenzo voltam a ter alguma cor quando uma família se muda para parte do prédio em que vive e ele se aproxima especialmente de Michela (Micaela Ramazzotti), a esposa de Fábio (Elio Germano) e mãe de um casal de filhos pequenos. Aos poucos Michela desarma o coração endurecido do vizinho e o faz repensar no olhar áspero que carrega sobre o mundo. Lá pelo meio do filme, Lorenzo chega a confessar que depois que seus filhos cresceram, ele deixou de amá-los. Será? Fábio também se aproxima do vizinho, mas de uma forma diferente - e a plateia logo percebe que existe algo no rapaz que está fora de lugar. Dificilmente este personagem funcionaria se não fosse defendido por um ator do porte de Elio Germano (que foi premiado no Festival de Veneza por seu papel marcante em A Nossa Vida/2010). O roteiro não detalha muito seu personagem, mas o ator confere a ele uma carga emocional densa, onde se percebe uma inquietação que sustenta a guinada da história desde sua primeira cena. Curiosamente, a mudança brusca no cotidiano dos personagens surge justamente quando o filme parece seguir aquele caminho cômodo de mais um drama familiar como tantos outros, nesta transição que Gianni Amelio demonstra êxito em uma direção firme, que não destoa em nenhum instante, pelo contrário, se torna mais rica ao juntar os fios sobre seu personagem principal. Outro destaque do ótimo elenco é Giovanna Mezzogiorno (a amante de Mussolini no elogiado Vincere/2009) que está ótima como a filha que tenta se reaproximar de Lorenzo, pena que seu irmão em cena não tem a mesma complexidade em cena. A Ternura mostra-se um belo exemplar do recente cinema italiano em seu olhar cortante para os sentimentos não ditos, sejam eles ternos ou assustadores.
A Ternura (La Tenerezza/Itália-2017) de Gianni Amelio com Renato Carpentieri, Micaela Ramazzotti, Giovana Mezzogiorno e Elio Germano. ☻☻☻☻
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