Hanks, Streep e os colegas de trabalho: o compromisso da imprensa.
The Post - A Guerra Secreta pode não ser o favorito ao Oscar deste ano (em que concorre nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz), mas se beneficia de contar uma história real que serve de ponto de reflexão para o mundo em que vivemos hoje. A história se passa no ano que em que o Washington Post estava prestes a colocar suas ações na bolsa de valores de Nova York - e algumas cenas deixam claro que a situação financeira da publicação não era das melhores. Tentando reverter o quadro, a dona do jornal, Kay Graham (Meryl Streep) se percebe constantemente em encruzilhadas sobre as despesas do jornal e o retorno financeiro. Não deixa de ser curioso que antes da tal guerra do título aparecer na história, Graham é apresentada como uma espécie de socialite e a maior preocupação do jornal é quem cobriria o casamento da filha de Richard Nixon. A coisa muda de figura quando o New York Times começa a publicar matérias sobre a realidade por trás da Guerra do Vietnã, interessados pela notícia, o Washington Post começa a pesquisar sobre o assunto. O jornal acaba se deparando com um documento gigantesco com análises de governo sobre a Guerra e a grande dúvida é se devem publicar ou não aquelas informações, uma vez que o impacto da notícia seria irremediável. Colabora para a dúvida a situação do New York Times responder a um processo sobre a publicação e quem seria fonte do Washington Post. A tensão fica por conta da responsabilidade da publicação e as consequências que sofrerá por conta disso. Se existe pressão nos bastidores do jornal, cabe ao editor-chege Ben Bradlee (Tom Hanks) e a dona Kay Graham a decisão final e o destino de todos os demais. Como o final da história já é conhecido, o roteiro (de Liz Hannah e Josh Singer) e a direção de Steven Spielberg precisam segurar atenção ancorado em diálogos e as nuances variadas de tal decisão. A ideia de um jornal diante de uma notícia explosiva desafiando poderosos não é novidade, já vimos o próprio Washington Post lidando com isso no clássico Todos os Homens do Presidente (1976) - e, conforme anuncia a última cena, é o próximo capítulo desta história -, talvez por isso The Post não tenha me impressionado. Ainda que bem realizado tecnicamente é bastante acanhado diante da temática abordada. É público e notório que Spielberg detesta gerar polêmicas (mesmo quando conta histórias polêmicas) e acaba optando por uma zona de conforto que não compromete o resultado, mas também evita resultados mais contundentes jogando para a plateia interpretar como bem entender. Isto não torna o filme ruim, mas lhe drena parte de sua energia. O filme é valorizado pelo momento delicado em que a imprensa atravessa não apenas nos Estados Unidos, mas em todo o mundo onde os limites entre a verdade e as propagadas fake news, marcam a batalha entre o jornalismo sério e o sensacionalismo das redes sociais. Conflitos de interesse, politicagens, ideologias opostas, contradições, troca de influências... o mundo da pós-verdade se tornou um verdadeiro campo minado para a notícia confiável. Outro destaque é a presença de Meryl Streep (pela 21ª vez indicada ao Oscar) vivendo uma personagem em ambientes majoritariamente masculinos e que precisa se impor cada vez mais. Meryl cria uma personagem introspectiva que amadurece sua decisão aos poucos, ponderando os contatos que entram serão comprometidos com a repercussão do que tem em mãos e a credibilidade de uma empresa herdada pela família. Num elenco repleto de talentos, mas em papéis modestos, Meryl que se o fio condutor da narrativa. Cinematograficamente The Post não chega a ser um grande destaque na carreira de Spielberg, Hanks ou Streep, mas carrega uma história importante que nos faz pensar no papel da imprensa num mundo tão confuso.
The Post - A Guerra Secreta (The Post - EUA/2017) de Steven Spielberg com Meryl Streep, Tom Hanks, Tracy Letts, Bruce Greenwood, Matthew Rhys, Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Carrie Coon e Alison Brie. ☻☻☻
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