Mary e Leonardi: paladar em ação.
Nos anos 1990 com os trabalhos em alta de Robert Altman e seu discípulo, Paul Thomas Anderso) os filmes caleidoscópicos estavam em alta, o problema é que vários diretores resolveram misturar um monte de personagens em histórias cheias de tramas paralelas com uma fragilidade pouco envolvente. O canadense Jeremy Podeswa resolveu fazer diferente e unir seus personagens em torno de um ponto de partida palpável (o sumiço de uma garotinha) e um outro mais abstrato (os cinco sentidos) e o resultado funciona que é uma beleza, especialmente pelo corte e costura excepcional que o diretor oferece para sua trama. Podeswa começou a fazer cinema em meados dos anos 1980, mas teve seu primeiro lançamento em circuito comercial somente em 1994 com Eclipse, filme sobre um grupo de pessoas e as relações sexuais estabelecidas entre elas. A produção chamou atenção em alguns festivais e ajudou o diretor a dar forma este seu filme seguinte, que consegue ser bastante interessante na forma como aborda seus personagens principais, sua relação com os sentidos e a sugestão de que para além da percepção de mundo que estes oferecem, são necessários outros elementos para que a percepção do mundo seja mais completa. Assim, conhecemos a confeiteira Rona (Mary Louise Parker) que está prestes a receber a visita de Roberto (Marco Leonardi), com quem teve uma aventura romântica em uma viagem pela Europa. Ela está meio insegura, mas o amigo Robert (James MacIvor) acredita que a visita pode ser o início de um relacionamento mais duradouro. Robert trabalha com serviços de limpeza e acredita que ao encontrar o amor de sua vida irá sentir um cheiro especial, mais específico... Em paralelo a estas história, existe o oftalmologista Richard Jacob (Philippe Volter) que está perdendo a audição e a massoterapeuta Ruth (Gabrielle Rose) que tem problemas de relacionamento com a filha, Rachel (Nadia Litz) que está cada vez mais silenciosa e curiosa sobre o mundo (o que a torna cada vez mais adepta do voyeurismo). Podeswa embaralha a história de seus personagens com cortes precisos e mistura drama, comédia e doses de suspense, mas o que funciona como ótimo tempero para as histórias é um senso de solidão urbana para personagens que gravitam numa mesma localidade mas que raramente se encontram. Entre uma pegadinha aqui e outra ali (em que retrata como os sentidos podem nos enganar), Os Cinco Sentidos parece ampliar ainda mais sua percepção de como o ser humano possui outros sentidos para além do olfato, audição, paladar, tato e visão. São as emoções que emanam de seus personagens que tornam estes sentidos mais plenos e coerentes. Demonstrando pleno controle dos personagens que tem em mãos, o filme se tornou um pequeno clássico cult do cinema canadense, foi foi premiado no Festival de Toronto e foi indicado a nove Genie Awards (o Oscar Canadense), mas levou para casa somente o prêmio de melhor direção. Pena que Podeswa passou a se dedicar cada vez mais ao trabalho na televisão (se bem que estes já lhe garantiram quatro indicações ao Emmy pelo trabalho de direção em séries do porte de Game of Thrones, Boardwalk Empire e The Pacific). Apesar de pouco conhecido, este é um dos meus filmes canadenses favoritos e achei uma boa escolha para encerrar este #FimDeSemana dedicado ao cinema feito no Canadá.
Os Cinco Sentidos (The Five Senses / Canadá - 1999) de Jeremy Podeswa com Mary Louise Parker, JAmes MacIvor, Marco Leonardi, Nadia Litz, Gabrielle Rose, Phillipe Volter e Molly Parker. ☻☻☻☻ ☻
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