Riley e Taylour: saga registrada no Twitter.
Faz um tempinho que o Oscar quer soar renovado e inclusivo, mas se ele também quisesse parecer moderno e descolado teria indicado Zola em várias categorias na última edição, ou, pelo menos ao Oscar de roteiro adaptado. Afinal, quantas vezes vimos um filme tão cheio de energia adaptado de uma thread do Twitter? Nunca antes. É verdade que não se trata de uma thread qualquer, afinal, foram 148 postagens de como teria sido o final de semana mais louco da vida de Zola, uma stripper que se mete em um esquema de prostituição ao conhecer Stefani. Tudo aconteceu em 2015 e o conteúdo viralizou na rede social e ganhou maior detalhamento em uma matéria publicada na revista Rolling Stone com o título "Zola Tells All: The Real Story Behind the Greatest Stripper Saga Ever Tweeted" (ou "Zola Conta Tudo: A História Real por trás da maior saga de uma Stripper já Twitada"). A história era tão impressionante que chamou atenção do cinema e quase virou filme dirigido por James Franco, que graças às deusas do cinema foi substituído por Janicza Bravo que realizou um ótimo trabalho. Bravo constrói uma das narrativas mais inventivas dos últimos tempos e conta a história da dançarina em apuros em pouco mais de oitenta minutos de projeção. Flertando com a linguagem da rede social (palavras, fotos, desenhos e sons) em que a história foi originalmente publicada, Zola transborda frescor e ousadias o que fez o filme se tornar um verdadeiro hit do cinema indie nos Estados Unidos. Muito do sucesso do filme também se deve ao talento e carisma de Taylour Page, uma atriz ainda pouco conhecida, mas que carrega a situação complicada de sua personagem com bastante desenvoltura. Page vive Zola e está muito bem acompanhada de Riley Keough (a neta de Elvis Presley que faz tempo merecia um reconhecimento maior no cinema), responsável por interpretar a nebulosa loura Stefani. É Stefani que convence Zola a cair na estrada para ganhar mais dinheiro em shows em outras cidades, mas as coisas já ficam estranhas quando ela se depara com X (Colman Domingo), um cafetão bastante ameaçador. Também acompanha a viagem o ingênuo Derrek (Nicholas Braun) que, na pele do namorado da loura merece lugar entre os maiores patetas da história do cinema. O quarteto irá se meter em um bocado de encrencas, mas que irá revelar que em termos de gerar lucros, Zola é bem mais astuta do que X poderia supor. Obviamente que isso chama atenção da concorrência e... melhor parar por aqui. Obviamente que diante do seu conteúdo "para gente grande", o filme traz algumas cenas que podem deixar os mais conservadores constrangidos (e este deve ser o motivo para a Academia do Oscar ignorar o filme por completo e rendeu censura de 18 anos por aqui), mas a forma como equilibra tudo com agilidade, brilhos, humor e acidez o torna uma atração irresistível. O filme deveria ter sido lançado em 2020, mas por conta da pandemia, sofreu vários adiamentos e problemas de distribuição. Tantos problemas não prejudicaram o apelo do filme que recebeu sete indicações ao Independent Spirit Awards, sendo premiado nas categorias de melhor atriz (Taylour Paige) e montagem (Joi McMillion). Por aqui o filme está disponível no HBOMax (tire as crianças da sala e divirta-se).
Zola (Zola / EUA-2020) de Janicza Bravo com Taylour Paige, Riley Keough, Colman Domingo, Nicholas Braun e Ari'el Stachel. ☻☻☻☻☻
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