terça-feira, 7 de junho de 2022

CICLO DIVERSIDADESXL: Great Freedom

Georg e Franz: amizade improvável.

A história de perseguição aos homossexuais é antiga. A União Soviética era famosa por isso (algo que ainda permanece notório em filmes como Bem-Vindo à Chechênia/2020). No Reino Unido a homossexualidade foi considerada crime até a década de 1980 (basta lembrar do destino de Alan Turing em O Jogo da Imitação/2014 e as manifestações de Orgulho e Esperança/2014) e nos Estados Unidos, alguns estados, como o Texas, ainda possuíam leis que consideravam gays criminosos até 2003. Em Cuba, durante o início da revolução, os homossexuais eram mandados para regimes de trabalhos abusivos e exploratórios sobre o pretexto de se tornarem "homens de verdade" enquanto professores e artistas gays eram proibidos de trabalhar devido à má influência que poderiam exercer (como pode ser visto em Antes do Anoitecer/2000). Até o final de 2020, oitenta e um países ainda possuíam leis que criminalizavam relações entre pessoas do mesmo sexo. O filme alemão The Great Freedom retrata uma destas realidades históricas através de Hans Hoffman (Franz Rogowski), que é preso na Alemanha em 1968 após uma câmera flagrar seus encontros sexuais em um banheiro masculino. As filmagens se tornam provas para que ele seja preso com base no Parágrafo 175 (que já rendeu um documentário premiado homônimo em 2000), que tornou o sexo entre homens ilegal no Império Alemão em 1872 e foi revogado somente em 1994. Esta não é a primeira vez em que Hans é condenado por sua sexualidade, afinal, ele foi preso em um campo de concentração nazista pelo mesmo motivo. Ao todo foram três décadas de entradas e saídas de encarceramento por conta de se recusar a fingir ser o que não é. Ao longo desta história, existem outros homens importantes na trama, um deles é Oskar (Thomas Preen), com quem o protagonista sonha viver novamente quando for libertado, outro é Leo (Anton Van Lucke), um professor que teve a vida destruída após o encontro no banheiro com Hans e Viktor (Georg Friederich), antigo parceiro de cela do prisioneiro. Narrado entre idas e vindas temporais, como se a história de Hans fosse composta de pedaços quase aleatórios, mas semelhantes em suas marcas de incompreensão, desejo e perseguição, o filme pode causar estranhamento em sua montagem original. É preciso destacar a maestria com que Franz Rogowski compõe seu personagem seguro de si, mas sempre presente em um ambiente opressor, também é interessante notar como o personagem consegue driblar regras do ambiente prisional e estabelecer laços cada vez mais fortes, especialmente com Viktor, que o agride quando descobre que dividirá a cela com ele e aos poucos passa a vê-lo com outros olhos. A radicalidade impressa pelo diretor Sebastian Meise soa não apenas provocadora, mas coerente com a história que tem em mãos e, até o final de dar um nó na garganta, a Grande Liberdade anunciada pelo título parece sempre distante. Great Freedom foi premiado no Festival de Cannes no ano passado por sua exibição na mostra Un Certain Regard e merece destaque pelo contexto histórico de uma homofobia legitimada pelo estado até pouco tempo. Inédito nos cinemas brasileiros, o filme pode ser visto na MUBI. 

Great Freedom (Große Freiheit / Áustria - Alemanha / 2021) de Sebastian Meise com Franz Rogowski, Georg Frederich, Anton Van Lucke e Thomas Pren. ☻☻☻☻

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