Lothaire (ao centro): aclamação e martírios.
Daniel (Lothaire Bluteau) é um jovem ator promissor da cidade de Montreal no Canadá que acaba de ter um aclamado trabalho no teatro. Com as atenções voltadas para o próximo passo de sua carreira, ele causa surpresa ao aceitar realizar uma montagem da Paixão de Cristo para a paróquia local, sendo solicitado apenas que realize uma modernizada na adaptação para agregar novos fiéis. Cheio de ideias, o rapaz começa a fazer pesquisas sobre a história de Jesus e imagina um espetáculo inovador no parque local administrado pela igreja. Para participar da empreitada, ele começa a convidar atores desconhecidos, como a amiga Mireille (Catherine Wilkening) que agora ganha a vida como garçonete para sustentar a filha, o dublador Martin (Rémy Girard), o meticuloso René (Robert Lepage) e a modelo (Johane-Marie Tremblay) que está cansada de ser vista somente como um corpo em campanhas publicitárias. A peça estreia e se torna um sucesso, mas a igreja começa a ter problemas com algumas alterações feitas por Daniel - além de um incidente causar problemas com a justiça. Escolhi Jesus de Montreal para abrir este #FimDeSemana com filmes no Canadá por ser um clássico da cinematografia do país. Este é o sexto filme do canadense Denys Arcand, o primeiro a ser lançado após a projeção mundial recebida com O Declínio do Império Americano (1986) - que rendeu sua primeira indicação ao Oscar de filme estrangeiro. Aqui ele se ampara mais uma vez nos diálogos para construir uma narrativa inteligente, cheia de humor e ironias, no entanto, ao invés de provocações baratas com temas religiosos, ele prefere revelar algumas hipocrisias ao longo da história. O padre que tem problemas com o celibato, a forma como obras religiosas são vistas pela mídia, o apelo perante o público em contraponto com a censura que começa a ameaçar a peça... mas a graça mesmo está nos paralelos que Arcand estabelece entre a jornada de Daniel e seus seguidores com algumas passagens bíblicas. A analogia entre Madalena e a mulher que precisa ser levada a sério, a lição aos vendedores do templo (agora com um grupo de publicitários), a postura de Daniel em confronto com o poder local e até a ideia de ressurreição ao final do filme. Arcand está tão seguro de si que ousa apresentar grande parte da peça no meio do filme de forma bastante envolvente, de forma que faz imaginar sua capacidade de filmar algo teatral com toda desenvoltura que o cinema oferece. O filme tem um discurso bem interessante sobre a arte perante um olhar mais conservador e as dificuldades que artistas encontram para conseguir sustento e serem reconhecidos. Não por acaso o metrô se torna um cenário importante no último ato. Não apenas pela ideia do underground se fazer presente de forma literal como a cena final com as duas cantoras deixa um nó na garganta. Visto hoje o filme está longe das polêmicas que suscitou em seu lançamento, mas permanece interessante nos pontos que tem a destacar perante o público. Um filme que envelheceu bem e hoje parece fazer ainda mais sentido.
Jesus de Montreal (Jésus de Montréal / Canadá - 1989) de Denys Arcand com Lothaire Bluteau, Catherine Wilkening, Rémy Girard, Robert Lepage, Johanne-Marie Tremblay, Yvves Jacques, Gilles Pelletier, Cédric Noél e Pauline Martin. ☻☻☻☻
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