Eimutis e Dogac: atração e autoironia.
Marius (Eimutis Kvosciauskas) é um advogado corporativo na Lituânia. Homossexual assumido, ele sabe a realidade homofóbica de seu país e mantem um grupo de amigos próximos além de relacionamentos rápidos que nunca avançam muito. É em uma destas aventuras sexuais que ele conhece Ali (Dogac Yildiz), um stripper de site da internet. A vida de Marius poderia seguir deste jeito até o fim de sua vida, não fosse o repentino falecimento de seu pai e algumas conversas que começam a fazê-lo repensar que o tempo está passando e que, talvez, estivesse na hora de repensar algumas diretrizes de sua vida - o que começa a envolver diretamente Ali e sua complicada realidade. Um amigo disse que O Advogado é quase "a versão queer de Uma Linda Mulher" e, vendo o filme, aos poucos comecei a entender o comentário. Para além do protagonista ser um advogado cínico que aos poucos começa a se desconstruir e revelar um bom coração, existe aquela sensação de ser a clássica história de Cinderela transposta para um contexto mais contemporâneo, em que uma espécie de príncipe encantado irá aparecer e resolver seus problemas. No entanto, O Advogado tem autoironia suficiente para brincar com todas estas referências. A forma como Ali rejeita o rótulo de vítima ou herói, a tensão que se estabelece entre os dois homens por conta das intenções que podem estar escondidas diante do desejo que só cresce entre os dois... também não faltam comentários sobre a simplificação de um indivíduo através dos rótulos não apenas sobre ser gay, bissexual, trans e, até mesmo, um refugiado (sem deixar de comentar que "os refugiados estão na moda"). No entanto, o filme precisa que o espectador compre a ideia de que o amor não apenas existe, mas é capaz de transformar pessoas, seja a revolta de Ali preso em Belgrado pelas burocracias governamentais, mas também o questionamento das regras na vida de Marius (que até então eram vistas como intransponíveis). O problema é que embora o filme encontre o caminho certo para desenvolver o romance que se estabelece entre os dois personagens (com ajuda da boa química entre os atores principais), no que tange ao contexto em que tudo acontece, existem muitas soluções simples para situações bastante complicadas. No fim das contas, fica a sensação da promessa de um final feliz sob a suspeita se ele seria realmente possível. Escrito e dirigido pelo lituano Romas Zabarauskas, o filme segue uma narrativa simples e sem firulas, mas que possui um uso inventivo no uso de cores. Não é por acaso que de vez em quando as cenas são cinzentas, avermelhadas ou até em preto e branco como se fosse um clássico filme sobre casais. Desde o início de sua carreira como cineasta, Romas deixou claro as suas intenções contra a homofobia, o que torna as intenções nobres de O Advogado um dos eixos de sua narrativa.
O Advogado (Advokatas / Lituânia - 2020) de Robas Zabarauskas com Eimutis Kvosciauskas, Dogac Yildiz, Darya Ekamasova, Simonas Mozura e Heynce Saraf. ☻☻☻
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