sábado, 11 de junho de 2022

CICLO DIVERSIDADESXL: Brilho Para Eternidade

 
Udo Kier: ícone em ação.  

Nascido na Alemanha em 1944, Udo Kierspe ficou mais conhecido como Udo Kier, um  dos atores mais prestigiados da Europa. Kier começou a atuar nos anos 1960 chamando atenção pelos expressivos olhos azuis que surgem hipnóticos na tela e ficou conhecido pelos trabalhos em filmes de terror e papéis de vilão. O reconhecimento internacional lhe deu passe livre para trabalhar em diversos países, assim, fez vários filmes com Lars Von Trier (desde os anos 1980), trabalhou com Dario Argento, Andy Warhol, Gus Van Sant, Werner Herzog, Win Venders, Alexander Payne e ficou ainda mais conhecido no Brasil ao ganhar papel de destaque em Bacurau/2019 de Kleber Mendonça Filho. Sua popularidade também já lhe garantiu participações marcantes em clipes como em Depper and Deeper de Madonna (com quem também participou das polêmicas fotos do livro SEX em 1992). Prestes a completar 78 anos, o ator parece cada vez mais distante da aposentadoria e sempre disposto a enfrentar novas experiências. Homossexual assumido com quase trezentas produções no currículo, seu status cult sempre se nutriu da habilidade de trabalhar em todo tipo de filme. De blockbusters hollywoodianos a pequenas produções de diretores desconhecidos, ele pode aparecer assutador em produções sombrias (e tristíssimas como O Pássaro Pintado/2019) como também aceitar o convite de Todd Stephens, diretor que passou treze anos sem filmar para protagonizar o multicolorido Swan Song (que aqui ganhou o título genérico de  e está disponível no HBOMax). Stephens ganhou alguma projeção ao fazer os dois filmes da franquia Another Gay Movie (2006 e 2008) que paraodiava clichês gays de Hollywood, mas pelo que se vê em Swan Song, o diretor tem planos para ser levado a sério daqui para frente. O filme conta a história de Pat (Udo Kier), um senhor que vive atualmente em um abrigo de idosos, cuja a maior graça do dia é fumar escondido. Um dia, Pat recebe o convite de cuidar do visual de uma ex-cliente que acaba de falecer e ele não aceita. Porém, aquele convite faz o protagonista pensar que recordar os velhos tempos de cabelereiro renomado pode ser interessante. Assim, ele volta à sua antiga cidade e enquanto observa que o mundo que conhecia mudou bastante, aproveita para revisitar algumas passagens de sua vida que merecem ser passadas a limpo. O filme pode parecer uma colagem de situações envolvendo o personagem (e talvez seja mesmo), mas a grande sorte da produção é ter a cola feita pelo trabalho inspirado de Kier que está bem diferente da maioria dos papéis que colecionou em sua carreira. Embora nostálgico e melancólico, seu personagem retoma sua identidade ao longo da narrativa, até que faça as pazes com sua história e suas dores. Ao viver um homossexual maduro que sobreviveu a um AVC, à morte do parceiro, os preconceitos e o fantasma da AIDS, o que vemos é um paralelo com a história dos homossexuais ao longo das décadas, especialmente nos Estados Unidos. O melhor é que o roteiro também guarda momentos de alegria, como a noite de despedida em uma boate gay em que Pat costumava se apresentar e o catártico encontro com o neto de sua ex-cliente (vivido por Michael Urie, o Marc da série Ugly Betty). Com boa recepção em Festivais no ano passado, o filme concorreu ao Independent Spirit de melhor ator (Udo Kier) e melhor roteiro (assinado pelo diretor Todd Stephens), mas  pela afiada mistura de drama e comédia. Swan Song é um filme que consegue comover sem grandes esforços e se torna uma verdadeira carta de agradecimento às gerações que precederam as conquistas que a comunidade LGBTQIA+ conquistou nas últimas décadas (e não por acaso é Udo Kier que está no alto dos créditos). 

Brilho Para Eternidade (Swan Song/ EUA-2021) de Todd Stephens com Udo Kier, Jennifer Coolidge, Michael Urie, Linda Evans, Ira Hawkins e Thom Hilton. 

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