terça-feira, 22 de dezembro de 2020

PL►Y: A Voz Suprema do Blues

 
Chadwick (ao fundo) e Viola: encontro de talentos. 

Produzido pela Netflix de olho nas premiações de fim de ano, o filme A Voz Suprema do Blues entrou em cartaz na semana passada e demonstrou fôlego para cravar indicações nas categorias de atuação. Se existia um certo favoritismo em torno de Viola Davis no páreo de melhor atriz, o lançamento do filme deixou claro que Chadwick Boseman deve receber uma indicação póstuma. Falecido recentemente após uma batalha silenciosa contra o câncer, o eterno Pantera Negra encontra aqui sua grande chance der ser reconhecido nas premiações. A sensação de que ele partiu cedo demais se intensifica ainda mais diante de seu trabalho marcante na pele do músico Levee que junto com outros artistas negros se junta para a gravação em estúdio de uma música na escaldante Chicago de 1927. Embora a grande estrela do grupo seja a lendária Ma Rainey (Viola Davis), que moldou o jeito de cantar blues de nove entre dez cantoras que surgiram depois dela, Leeve ganhou notoriedade por criar um arranjo mais animado para o hit Ma Rainey's Black Bottom (título que dá nome original ao filme). No entanto, Ma considera este novo formato uma verdadeira afronta à sua música e se recusa a gravar a nova versão. Este é apenas um dos pontos de tensão da premiada peça de August Wilson (também autor de Um Limite Entre Nós/2016 que rendeu o Oscar de coadjuvante para Viola). Aqui o autor aproveita o calor deste encontro para costurar a história pessoal de seus personagens que giram em torno da música, mas compartilham relatos sobre  comportamento, preconceito, violência e fé. Os diálogos são fortes e tratados de uma forma um tanto áspera pelo diretor George C. Wolfe que não consegue esconder que está filmando uma peça. Talvez se houvesse utilizado recursos de flashback e uma câmera mais esperta, seu filme não ficaria com cara de teatro filmado a maior parte do tempo. A sorte é que Viola Davis está ótima em uma personagem bem diferente das que costuma encarnar, com uso de enchimento para simular que está acima do peso, dentes irreconhecíveis, um jeito de falar e andar que já demonstram um certo cansaço de ter que gritar para ser ouvida numa sociedade dominada por homens brancos. Não há dúvidas de que Viola é uma estrela com generosidade suficiente par dividir o brilho do roteiro com Chadwick que ganha destaque desde a primeira cena em que já apresenta um homem talentoso, ambicioso, mas assombrado pelo passado. A Voz Suprema do Blues vale pelo trabalho de seus atores e pelo roteiro que cresce em tensão como se cozinhasse seus personagens numa panela de pressão (e o suor constante sempre enfatiza isso), no entanto,  a direção nem sempre consegue acompanhar os ótimos recursos que tem em mãos. Irregular em sua execução, A Voz Suprema do Blues traz um comentário social que transcende os tropeços de sua transição para o cinema e pode surpreender no Oscar do ano que vem. 

A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey' Black Bottom / EUA - 2020) de George C. Wolfe com Viola Davis, Chadwick Boseman, Colman Domingo, Glynn Turman, Michael Potts e Jeremy Shamos. 

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