Wang e Sr. Yee: brincando de quente e frio.
Ang Lee ainda saboreava seu Oscar de direção por Brokeback Mountain (2005) quando retornou ao oriente para dirigir um romance com fortes doses de erotismo. O filme causou escândalo ao ser exibido no Festival de Veneza (e em todos os países por onde passou) devido às (um tanto) despudoradas cenas de sexo em sua narrativa. O filme conta a história de uma jovem estudante e atriz, a jovem Wang (Wei Tang) que é escaladada para uma missão: seduzir e matar Sr. Yee (Tony Leung Chiu Wai), um chinês que trabalha para o governo de ocupação de Hong Kong durante a Segunda Guerra Mundial. Mas apesar do tipo inocente de Wang soar irresistível como isca, Sr. Yee é mais esperto do que parece em seu convívio social - já tendo escapado de diversas emboscadas, recompensando seus algozes com prisões e assassinatos. Wang não está sozinha em sua missão, ela conta com estudantes de seu grupo de teatro para realizar a emboscada ao seu alvo. Mas nem tudo sai como o esperado e ela acaba tendo de fugir subitamente. Não se preocupe, eu não contei o final do filme, este é só o início. Anos depois, Wang retorna, resgata sua amizade com a Senhora Yee (a renomada Joan Chen) e faz o impossível para seduzir Sr. Yee o carregando para sua armadilha. É neste segundo ato que estão presentes as desesperadas cenas dos amantes. Ang Lee disse que as cenas de sexo do filme são comparáveis às cenas de luta de O Tigre e o Dragão (filme que lhe deu o Oscar de filme estrangeiro em 2001), onde morte e vida estão em jogo. Os fãs do filme conseguem ver inúmeros significados em cada gesto dos amantes sobre a cama, cada beijo, gesto, olhar, lambida e mudança de posição indicariam quem está no domínio em determinado momento da trama. Embora mais agressivas do que amorosas, as cenas realmente impressionam e funcionam em perfeito contraste com a trama lenta, longa e arrastada. Não consigo esquecer que ao abordar os cowboys gays de Brokeback Mountain, Lee havia realizado uma desastrosa declaração dizendo que não havia mais novidades em retratar relacionamentos entre homens e mulheres. O comentário foi preconceituoso, mas diante do sucesso do filme pouca gente esquentou a cabeça. Talvez por isso, Lee tenha encontrado no livro Se, Jie de Eileen Chang para se desculpar (dizem que a autora demorou 30 anos para escrever sua obra e que esta tem traços autobiográficos). Apesar de Lee utilizar a trama para criar cenários, figurinos e fotografia de encher os olhos numa Xangai pobre e ainda sedutora, a narrativa padece de uma frieza insuportável. A beleza visual e esforço do elenco podem até servir de desculpa para a ideia de reproduzir o estilo noir do cinema americano dos meados do século XX, mas a emoção parece ter ficado restrita às cenas mais apimentadas do casal (e uma cena de violência regada com muito sangue ao fim do primeiro ato). Podem dizer que o povo oriental é mais contido, tolhido, castrado, conservador... mas da forma como as coisas são feitas durante a sessão o final é mais do que previsível - afinal é o único caminho a que o desejo e perigo da trama poderia conduzir (e para chegar lá, o público terá de ficar acordado por quase três horas de exibição).
Desejo e Perigo (Lust, Caution/EUA-China/2007) de Ang Lee com Tony Leung Chiu Wai, Wei Tang, Joan Chen e Wang Lee-Hom. ☻☻
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