quinta-feira, 17 de novembro de 2011

DVD: De Pernas para o Ar


Ingrid: Alice no país do coelho sacana.

Talver porque em minha modesta vidinha familiar o sexo nunca foi um assunto digno de escândalo, eu não considere muita graça no humor de carga sexual. Não que sexo não tenha graça, mas, na grande maioria das vezes as piadinhas se sustentam mais em preconceitos emaranhados em clichês de vulgaridade do que propriamente o sexo em si. Digo isso sem medo de parecer moralista porque sei que a maioria das piadinhas sexuais dependem muito mais do moralismo de quem escuta e as conta do que qualquer outra coisa. Por mais que o sexo tenha propagado ter se despido de culpa enquanto as mulheres festejam suas conquistas, as piadinhas costumam ser traiçoeiras quando são analisadas com um mínimo de profundidade. Pode parecer cruel fazer uma introdução dessas para um filme tão despretensioso quanto De Pernas Para o Ar, cujo o único interesse é fazer rir, mas custava caprichar um pouco mais na história da executiva workaholic que após uma maré de azar redescobre a autoestima ao ajudar uma sexshop a decolar no mercado? A executiva em questão é Alice (Ingrid Guimarães), que por conta de uma  confusão dos correios acaba recebendo as encomendas da vizinha (Maria Paula) que administra uma sexshop que vai de mal a pior. O feito acarreta sua demissão, que ganha contornos ainda piores quando ela é abandonada pelo marido (um insosso Bruno Garcia), o qual acredita ter uma amante! Mas tudo irá se resolver quando Alice cruzar o caminho da vizinha e mudar de vida depois que tiver o seu primeiro orgasmo com uso de brinquedinhos! Talvez por gratidão vê que a loja de adultos poderia ser um sucesso se tivesse uma campanha de marketing mais eficiente do que a batida promoção do "cliente número 69"! Com campanhas na internet e entregas domiciliares o negócio começa a prosperar, mas ela precisa resolver suas pendengas emocionais. Acho que já falei demais, mas não fica difícil imaginar que por trás de todo o verniz feminista, De Pernas para o Ar é um bocado machista. Pra começar, fica claro que o roteiro percebe que para a sua heroína ser feliz ela precisa estar atrelada ao esposo que a abandonou sem maiores explicações. Como se não bastasse isso, a própria dona da sexshop chora as pitangas por não ter relações há anos depois que um cara a trocou pela própria esposa (precisa dizer que o cara é motivo de chacota quando aparece num restaurante devido sua aparência física?). Pois é, mulheres fortes são ameaçadoras para a maioria dos homens - e isso não é novidade alguma - então é melhor colocá-las em seu devido lugar com uma tapeada aqui e outra ali: faça-a frustrada por ter sido rejeitada e coloque sua vida em ponto morto até que uma reconciliação cruze o seu caminho. Isso sem contar as inúmeras humilhações a que Alice é submetida por esconder do seu esposo o novo negócio em que se meteu - e não vou nem dizer que os velhinhos do filme são mais desencanados do que o casal mais jovem e travadão, isso deveria ser engraçado depois de tantos filmes com velhinhos assanhados? Se existe alguma ousadia no filme é a cena com o coelhinho de pelúcia mais canastra da história do cinema (Alice... coelho... entenderam?). Os cenários dos filmes são pobres, os figurinos são inexpressivos, os enquadramentos sem criatividade então o que sobra? Sobra o elenco feminino liderado por Ingrid Guimarães. Apesar do roteiro fraco, o elenco feminino consegue ser um grande acerto - que conta ainda com  Denise Weinberg (que interpreta a mãe da protagonista) Maria Paula (fazendo o que estava acostumada nos quadros do Casseta & Planeta) -, mas o sucesso do filme se deve mesmo ao carisma de Ingrid. Lembro dela quando era a integrante "esquisita" da trupe de Confissões de Adolescente. Por não ser exatamente bonita sua carreira na TV demorou para decolar (foi até empregada em novela de Manoel Carlos - aquelas coitadas que trabalham 30 horas por dia e não recebem destaque na trama). Atualmente, do quarteto da peça que foi febre na década de 1990, ela é a que continua em evidência após sucessos no teatro. Se De Pernas para o Ar consegue despertar mais interesse do que uma boneca inflável é por conta dela, que se prepara para a continuação desta saga... Lançado em DVD os defeitos do filme devem chamar menos atenção, já que pode ser confundido com um seriado global engraçadinho.  

De Pernas Para o Ar (Brasil/2010) de Roberto Santucci com Ingrid Guimarães, Bruno Garcia, Maria Paula e Denise Weinberg.       

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