Falecido em 1998, Alan J. Pakula tem pelo menos um grande clássico no currículo. Trata-se de Todos os Homens do Presidente, espécie de suspense jornalístico que caiu como uma luva no estilo do diretor que sempre gostava de colorir suas tramas com tonalidades políticas. O filme tornou-se um marco do cinema por retratar o trabalho frenético de dois jornalistas investigativos e ainda beneficiar-se de ser lançado com grande proximidade da trama real que lhe serve de matéria prima: o Caso Watergate. Para os desinformados, o caso acabou levando a renúncia do presidente Nixon em seu segundo mandato, após indícios de que estaria utilizando escutas no apartamento utilizado por seus rivais democratas. O filme retrata o trabalho árduo de dois jornalistas para demonstrar que o senhor presidente não estava acima da lei e para isso buscam informações que evidenciem quem estava se movimentando no Hotel Watergate às escuras e a mando de quem aqueles homens espionavam o partido democrata. O roteiro deixa claro que não foi tarefa fácil, pelo contrário, muitas pessoas estavam assustadas com as consequências que qualquer informação poderia ter em suas vidas. Realizado em 1975, Pakula faz um trabalho excepcional na direção com longos silêncios e muita calma a colocar cada nova informação no caminho do espectador através dos jornalistas Bob Woodward (Robert Redford) e Carl Bernstein (Dustin Hoffman), responsáveis por desmascarar um dos maiores esquemas de corrupção política da história dos Estados Unidos. Na ocasião de seu lançamento fazia apenas três anos que cinco homens foram presos na sede do partido democrata na tentativa de fotografar e instalar escutas ilegais. O prestigiado Woodward e o novato Bernstein ainda não haviam trabalhados juntos, mas compartilhavam o interesse em desvendar aquele caso obscuro e acabam descobrindo o envolvimento do alto escalão governamental da época. Pakula envolve personagens e espectadores numa espiral de nomes, suspeitas e pistas falsas de forma que pode (propositalmente) confundir e as atuações precisas de Hoffman e Redford ajudam mais ainda na necessária identificação do púiblico nesta jornada rumo à verdade. Os dois atores ainda deixam claras as divergências existentes entre os dois personagens, Redford constrói um Woodward elegante e cerebral enquanto Hoffman faz Bernstein um tipo mais nervoso, tagarela e juntos conseguem um certo equilíbrio ao lidar com os informantes que surgem pelo caminho e a tensão que cresce nos bastidores do jornal com a eminência de uma matéria bombástica que poderia acabar com a carreira de todos os envolvidos - e que dependia em seu desenrolar mais do faro jornalístico de seus autores do que qualquer outra coisa. Um dos aspectos mais elogiados do filme é justamente esta verdade que consegue imprimir nos bastidores do jornal, as redações regadas ao som das máquinas de datilografia, correrias, telefones e reuniões de decisão de pauta. Além das consagradas atuações de seus protagonistas, o filme ainda garantiu o Oscar de coadjuvante para Jason Robards como o editor que confia nos "garotos" que perseguiam sua história com o mais puro romantismo jornalístico (o filme teve oito indicações, incluindo filme e direção). Embora saibamos desde o início como irá acabar o caso, Pakula consegue construir uma tensão crescente até o desfecho. Ainda acho que o filme deveria ter uns minutos a menos, mas existem tantas qualidades em sua realização que parece até um crime reclamar - a começar por inserir referências clássicas no clima de conspiração governamental, como o misterioso informante que apareceu até em JFK e Arquivo X). Todos os Homens do Presidente é mais um exemplo da excelente safra hollywoodiana da década de 1970.
Todos os Homens do Presidente (All The predident's men/EUA-1975) de Alan J. Pakula com Robert Redford, Dustin Hoffman, Jason Robards, Hal Holbrook e Jane Alexander. ☻☻☻☻
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