Hütz, Wood e Leskin: iluminados pela luz do passado.
Nesta temporada de estreias de séries americanas nenhuma me empolgou, não adiantaram as expectativas de nomes que anseiam por reconhecimento cinematográfico como Kat Jennings em Two Broken Girls ou Patrick Wilson em A Gifted Man. Mas, a minha maior decepção foi Wilfred, estrelado por Elijah Wood que tem que lidar com o cachorro da vizinha. O grande atrativo do seriado é que o tão cãozinho é vivido por um ator fantasiado. O problema é que nos dois episódios que foram ao ar neste domingo pelo FX às 22:00, tudo me pareceu meio vulgarizado e a ideia do cão traiçoeiro acabou se perdendo em meio às escatologias e vulgaridades. Depois dessa decepção eu quis rever o meu filme favorito do eterno Frodo: Uma Vida Iluminada, filme de estreia do ator Liev Shreiber e que é baseado no livro de Johnatan Safron Foer (o mesmo de Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, o novo filme de Stephen Daldry). Elijah com seus olhos grandes (e óculos maiores ainda) está perfeito como Johnatan, um rapaz judeu que desde pequeno coleciona memórias (não vou nem aprofundar as referências ao trabalho de Marcel Proust). Preservativo, dentadura, punhado de areia e uma batata são alguns objetos que veremos em sua coleção durante o filme. É com a morte de seu avô que Johnatan decide ir para a Ucrânia e conhecer a mulher que o salvou da perseguição nazista. Em sua jornada irá contar com um guia turístico que afirma ser cego, seu neto, Alex Jr. (o ótimo Eugene Hütz, que adora o Brasil e é vocalista da banda Gogol Bordello - que colaborou na trilha sonora). Alex se comporta como um jovem novaiorquino, mesmo que tenha graves problemas com as expressões idiomáticas americanas (e por isso mesmo alfineta o que é politicamente correto). Para tornar a viagem mais interessante, os três dispõem da companhia da cadelinha guia Samy Davis Jr. Jr. (devidamente uniformizada com uma confusão linguística estampada na camisa) e um carro caindo aos pedaços. Shreiber surpreende ao conduzir este road movie de forte carga emocional e grandes influências do cinema russo - o que lhe confere uma identidade incomum entre as produções americanas. Entre uma parada e outra, as diferenças culturais entre o trio aparecem cada vez mais fortes, especialmente quando o guia afirma que odeia judeus (mesmo que seu neto tenha, ironicamente a cara de um jovem judaico - mas como ele afirma ser cego talvez nem tenha percebido). Aos poucos, não só Jonfen (como é chamado por Alex) descobre um pouco mais de sua história, mas os outros personagens lidam com revelações surpreendentes de suas próprias identidades. É belíssima a cena do sobrevivente do holocausto banhada em uma luz dourada - que demarca a iluminação que o filme retrata: todos somos iluminados pela luz do passado. Só por esta colocação o filme já merece lugar cativo na memória, mas ele faz mais, ao conduzir Johnatan na descoberta de que não é o único a colecionar memórias e que no fundo as pessoas não são tão diferentes quanto parecem - como ilustra brilhantemente a cena final de sua chegada ao aeroporto. Uma mensagem que pode parecer simples, mas que faz toda a diferença quando vemos um filme como um filme sobre o Holocausto. Bem produzido, surpreendentemente dirigido, com a presença de atores dedicados o filme é um grande acerto. Ao final da sessão dá até vontade de revê-lo diante da riqueza das simbologias e imagens que utiliza (com colaboração de Matthew Libatique, colaborador de Darren Aronofsky em vários de seus filmes), além disso não é todo dia que temos uma atuação de Eugene Hütz (inspiradíssimo e que depois só apareceu em Filthy & Wisdom/2009 a estreia de Madonna na direção). Uma Vida Iluminada é uma despretensiosa obra-prima.
Uma Vida Iluminada (Everything is Iluminated/EUA - 2005) de Liev Schreiber com Elijah Wood, Eugene Hütz e Boris Leskin ☻☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário