Rango e seus amigos: um degrau acima de todas as animações de 2011.
Além da técnica apurada de animação, existem outros elementos que fazem Rango ser surpreendente. Um deles é o fato de ser produzido pela Nickelodeon, que desde que começou a investir em filmes deixou claro que suas obras eram voltadas para o público infantil e ponto. O outro elemento é a direção inspirada de Gore Verbinski estreando em uma animação. Por mais que Verbinski houvesse exibido seus melhores dotes em O Sol de Cada Manhã (2005), sempre que se fala o nome do diretor lembramos logo da saga saturada de Piratas do Caribe ou do chato encontro de Brad Pitt e Julia Roberts em A Mexicana (2001). Pelo que se vê em Rango tudo isso ficou no passado. Verbinski confirma aqui seu gosto por personagens estranhos (encarnados por Johny Depp, de preferência) e aventuras amalucadas. Desde a primeira cena percebemos que Rango não é um desenho qualquer, para começo de conversa seu herói é um camaleão de estimação que vive numa caixa de vidro inventando histórias com um peixe de brinquedo e um busto de Barbie sem cabeça. Mal sabe ele que sua vida irá mudar para sempre quando, por acidente, é deixado no meio de uma estrada que corta o deserto. Rango irá enfrentar uma jornada que o levará até a cidade de Poeira, onde o que há de mais valioso é água - e essa é cada vez mais rara. Rango acaba inventando histórias sobre si local e acaba declarado xerife da cidade, conduzindo os cidadãos de Poeira na busca de explicações para o sumiço da água da região. Entre vilões (uma família gigantesca de topeiras, uma cascavel com metralhadora no lugar do chocalho e uma águia), maracutaias, corujas cantantes e outros personagens que não primam exatamente pela beleza (olhos furados por flechas, gatos cinzentos e magricelos, ratos com olhos enormes, sapos grotescos e coelhos de uma orelha só - todos feitos com um detalhamento impressionante) Rango irá perceber que mais do que a busca por água está na busca de sua própria identidade. As crianças podem se divertir com as aventuras amalucadas do personagem, mas os adultos devem curtir muito mais com as inúmeras citações a sucessos do cinema (Matrix, Homem Aranha 2, Star Wars e especialmente os clássicos faroestes) e uma quantidade de piadas que deve fazer sentido só para os mais antenados - no entanto a agilidade da narrativa se equipara ao visual e nos faz relevar qualquer deslize (a piada sobre prostáta, o momento escatológico em torno da fogueira...). Destaco a cena do ataque de morcegos citando Apocalypse Now que é inacreditavelmente bem feita, de cair o queixo mesmo - que junto com outros predicados, faz com que Rango fique (pelo menos) um degrau acima de todas as animações do ano (e tenha fortes chances de ganhar o Oscar se a Academia engolir as esquisitices da trama, mas o que se pode esperar de uma animação com a voz de Johny Depp?). Com mais esse acerto no currículo depois de dar adeus aos piratas caribenhos (o quarto episódio já contava com a direção de Frank Marshall), Verbinski está próximo de integrar o primeiro time dos diretores americanos. Curioso é que Rango não deixa de ser uma volta às suas origens, alguém lembra das aventuras de Um Ratinho Encrenqueiro (1997)?
Rango (EUA-2011) de Gore Verbinski com vozes de Johny Depp, Isla Fisher, Abigail Breslin, Bill Nighy, Alfred Molina e Clint Eastwood. ☻☻☻☻
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