Os Codys: família da pesada!
Fazia tempo que um filme não me deixava tão tenso quanto este filme australiano do estreante David Michôd. O filme foi premiado na categoria de filme estrangeiro em Sundance do ano passado, mas nenhum distribuidor brasileiro resolveu fazer-lhe o lançamento merecido nos cinemas. Em DVD o filme também chegou sorrateiramente, mesmo sendo um drama familiar criminal como há muito tempo não se via. O filme chegou a concorrer ao Oscar de atriz coadjuvante deste ano com a atuação de Jackie Weaver na pele de uma matriarca de um clã barra pesada de Melbourne. O filme começa com a chegada de Joshua (James Frecheville), um rapaz de dezoito anos que ficou órfão e foi morar com a avó e os tios. A avó estava sem falar com a mãe dele desde uma discussão sobre cartas e era notório o quanto a mãe de Josh tinha medo da influência que os tios poderiam ter sobre ele. Desde o início sabemos que a família não é das melhores. Tio Barry é um ladrão de banco (Joel Edgerton) que planeja se aposentar, Tio Craig (Sulivan Stapleton) é nervosinho e ganha fortunas com o tráfico, tio Darren (Luke Ford) é apenas dois anos mais velho que Joshua mas já está encrencado até o pescoço na cumplicidade com os outros. No entanto, o mais procurado é Tio Paul (uma atuação arrepiante de Ben Mendelsohn) que é o maior responsável pela polícia estar sempre observando os passos dessa família disfuncional. O título funciona como metáfora perfeita para as relações estabelecidas neste clã que acaba funcionando como uma cadeia alimentar dentre suas relações de parentesco - e as situações indevidas que os envolverãos irão incluir a polícia e qualquer outro que cruzar o caminho desta família nesta luta por sobrevivência. É no rumo sempre desgovernado dos passos de seus tios que Joshua terá que escolher fazer parte de seus crimes ou colaborar com a polícia na prisão de seus familiares numa sucessão de fugas, emboscadas e mortes. O estreante David Michôd demorou oito anos para construir sua trama e seu esmero no texto fica evidente. Apesar de conter poucos diálogos, o filme prima por situações que exploram os limites de seus personagens e do público. Michôd cria uma tensão absurda até o fim da sessão num final que pode soar pessimista e redentor ao mesmo tempo. Michôd parece o diretor de um programa do Animal Planet devido ao distanciamento que se obriga a contemplar esta família de valores distorcidos - e neste ponto brota o grande mérito de seu trabalho. Não bastasse a trama subir cada degrau com minuciosa exatidão, o filme ainda conta com uma trilha sonora densa (que se dá ao luxo a mesclar com canções pop se aparecerem pela trama, fazendo com que soem estranhamente sombrias). Diante das boas atuações (que inclui a de Guy Pearce como o personagem mais confiável da trama) não é surpresa que Jacki Weaver tenha chamado tanta atenção. Num elenco repleto de testosterona ela encarna uma mãe que defende seus filhotes como uma leoa (como deixa claro o quadro apresentado logo no início) e que não hesita em tomar caminhos menos ortodoxos para livrá-los de suas responsabilidades. Embora ambientada na década de 1980, a permissividade da matriarca é um aspecto cada vez mais presente na sociedade do século XXI.
Reino Animal (Animal Kingdon/Autrália-2010) de David Michôd com James Frecheville, Ben Mendelsohn, Guy Pearce, Jacki Weaver, Joel Edgerton, Sulivan Stapleton e Ben Mendelsohn. ☻☻☻☻
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