Jara: amor platônico premiado.
Muitos filmes se proclamam comédias românticas, mas raramente nos dão a sensação de que mereçam pertencer a esse gênero. Recentemento vi um filme latino que chegou discretamente elogiado aos cinemas daqui, trata-se do filme uruguaio Gigante que chega a ser brilhante em sua simplicidade. Seus méritos fizeram com que recebesse diversos prêmios internacionais, entre eles o Urso de Prata no Festival de Berlim (o que equivale a um honroso segundo lugar) e o prêmio de roteiro no Festival de Gramado. Gigante quase não tem diálogos, mas na forma como o diretor Adrián Biniez conduz sua narrativa, eles são até desnecessários. O filme acompanha a rotina de um vigia de supermercado, Jara (Horacio Camandule) que certa noite observa uma das faxineiras do mercado derrubar uma pilha de produtos. A partir da situação, Jara sente crescer seu interesse por ela. Trata-se de um amor platônico que poucas vezes foi tão bem mostrado na tela. Com o tempo passa a seguí-la discretamente, não só pelo circuito de câmeras do mercado como pelas ruas também. Uma trama simples, mas que se aproveita de boas situações da qual consegue extrair romance e muito humor. Nessas observações descobre que ela se chama Júlia (Leonor Svarcas) e que possuem algumas afinidades que motivam ainda mais o seu sentimento por ela. O diretor disse ter se inspirado numa timidez masculina pós-adolescente para desenvolver as ideias que deram origem ao filme e o resultado é simples, mas bastante original. Existem momentos que Jara parece estar brincando de Big Brother com os funcionários do supermercado, ajudando uns e atrapalhando outros. Porém, o mais impressionante do filme é que quando os diálogos aparecem, expressam bem menos do que as expressões sutis do grandalhão Camandule - seja quando descobre que Júlia anda enamorada por um homem de porte semelhante ao dele ou quando se excede imaginando que não a verá mais todos os dias. Caminhando para um final essencialmente romântico, Gigante possui um frescor que faz muito bem depois de enfrentar os personagens pasteurizados e insossos desse tipo de filme que Hollywood raramente acerta a mão ao fazer. Muito desse mérito fica por conta de Horacio Camandule em fazer um personagem difícil (grandalhão, fã de rock pesado e caladão) ser digno de torcida em sua jornada platônica.
Gigante (Uruguai/2009) de Adrián Biniez com Horacio Camandule, Leonor Svarcas, Fernando Alonso, Diego Artucio, Ariel Caldarelli, Fabiana Charlo e Andrés Gallo. ☻☻☻☻
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