Serrado e Fernanda: romance de carne, osso e ciúme.
Marcelo Rubens Paiva (o mesmo do clássico Feliz Ano Velho) tem se dedicado em suas últimas obras a explorar os conflitos da oposição entre a solteirice e a vida comprometida com seu par. Os fãs do livro Malu de Bicicleta reclamaram um bocado quando viram que sua adaptação para a telona alterou o final da trama. O diretor argumenta que a ideia foi mostrar um amadurecimento do protagonista... bem, vamos começar do começo. Luiz (Marcelo Serrado, em boa atuação) é um paulistano que construiu uma longa fama de conquistador (acho muito bem sacada a ideia dele "ler o pensamento" das mulheres que passam por ele, ou os closes estratégicos na anatomia feminina - isso além de seus pensamentos ácidos sobre as conversas com os outros personagens). Luiz é quase vitimado por uma ex-conquista descontrolada. Ele acaba procurando refúgio nos ares do Rio de Janeiro e é atropelado por uma bicicleta. Malu (Fernanda de Freitas, numa atuação até surpreendente que a livrou do estigma de sósia de Débora Secco) é a ciclista que está indo para o analista e não dá muita confiança para aquele rapaz com pinta de conquistador. Mas Luiz a espera no mesmo lugar do acidente depois de sentir algo diferente pela ciclista. Os dois vão se reencontrar e se apaixonar num carinho crescente. Acho louvável o empenho do diretor evitar os excessos e saber dosar o erotismo do relacionamento do casal com doses equillibradas de humor e romance. Não existe aquelas picuinhas e discussões bestas que se tornaram uma overdose nos filmes americanos do gênero (e influenciaram várias obras tupiniquins), mas uma tentativa de tornar Luiz e Malu em seres de carne e osso com suas inseguranças e sacrifícios para que o relacionamento dê certo. Assim, Luiz se torna um cara fiel e Malu é capaz de mudar de vida para morar com o amado em São Paulo. Contando com Paiva como roteirista e direção correta de Flávio Tambellini, tudo é coerente no encademento do filme, especialmente quando ele muda de tom do humor leve e dá lugar ao lado mais obscuro de Luiz, que de romântico se torna num chato em menos de um ano de relacionamento. Basta ele encontrar uma carta não assinada num livro (pudera, encontrar uma carta daquelas dentro de um exemplar de Madame Bovary deve ser realmente arrepiante - já que o livro de Flaubert é notóriamente um corte literário sobre o romantismo) para que pense que Malu o trai. Deste ponto em diante as viagens ao Rio de Janeiro, as conversas com outros homens e até um sujeito que aparece pedindo para que Luiz não se envolva com a esposa serve de motivo de suspeitas sobre Malu. Suspeitas por parte de Luiz, registre-se. Enquanto Serrado realiza uma bom trabalho na transição de seu personagem para um idiota completo (custava conversar com a namorada ao invés de ficar remoendo suspeitas? Ficar de cara emburrada?), Fernanda de Freitas faz um trabalho ainda mais impressionante como Malu, a tornando numa personagem inesquecível. Qualquer sujeito ficaria feliz de ter uma garota daquelas em casa, bastava aqueles momentos juntinhos para não desejar mais nada! Mas isso só ressalta o tema principal do filme: o ciúme. Essa coisa daninha que inferniza os casais é o elemento surpresa deste filme nacional simpático que merece ser descoberto em DVD. Além do desenvolvimento agradável da trama e das atuações, as locações, os figurinos e cenários são de muito bom gosto, mostrando que uma comédia romântica pode ser bem humorada e fazer pensar em como o ciúme pode servir apenas de argumento para o ciumento meter o pé pelas mãos.
Malu de Bicicleta (Brasil/2011) de Flávio Tambellini com Marcelo Serrado, Fernanda de Freitas, Marjorie Estiano e Otávio Martins. ☻☻☻
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