Williams e Pacino: a percepção reavaliada em dias eternos.
Insônia é o filme menos lembrado de Christopher Nolan, não que ele não mereça atenção, mas quis o deuses do cinema que ele ficasse imprensado entre o cultuado Amnésia (2000) e a franquia Batman. Apesar dos elogios, Insônia é lembrado somente pelos fãs do diretor, mas tem elementos suficientes para quem curte um bom filme policial. Baseado numa produção sueca homônima de 1997, o filme recebeu vários elogios pela performance de Al Pacino na pele de Will Dormer, um detetive enviado para uma investigação no Alaska e que acaba sendo surpreendido pela constante insonia provocada pelos dias eternos do lugar, afinal as noites só existem por lá durante o inverno (onde os dias possuem nada menos que 22 horas de noite durante três meses). Embora não utilize truques elaborados como no seu famoso filme de trás para frente, Nolan consegue imprimir as sensações de Dormer durante a narrativa quando seu cérebro cansado não consegue filtrar as informações que recebe (embaralhando sua percepção que se torna cada vez mais turva) ou fazendo com que perca a paciência com os colegas adolescentes da vítima. Acostumado com Los Angeles, Dormer vai até o pólo da terra para investigar o assassinato de uma colegial, ao seu lado está o parceiro Hap Eckardt (Martin Donovan, um dos atores mais populares do cinema indie americano) - mas muitos consideram que Sormer está lá para fugir das acusações de corrupção que recaem sobre ele (inclusive o próprio Eckhardt). Dormer é recebido como uma espécie de celebridade no local, especialmente pela agente Ellie Burr (Hillary Swank em uma ótima atuação) que o vê como uma inspiração para os investigadores americanos. Para fazer mais do que um filme de caça ao criminoso, Nolan insere um dilema moral em seu protagonista, quando em uma perseguição ao assassino ele acaba atirando no parceiro de longa data. Sujeito aos primeiros efeitos de mais de vinte e quatro horas sem dormir, Dormer não consegue distinguir se o episódio foi acidental ou não - e para piorar o assassino da tal adolescente testemunha o ocorrido. O filme acredita que o mais interessante da história não é descobrir quem matou a garota - já que isso nós descobrimos antes da metade com a presença do estranho escritor Walter Finch (Robin Williams) - mas saber como Dormer irá lidar com os dilemas que podem arruinar de vez a sua carreira. Acusando Finch de ter assassinado seu parceiro, Dormer cria uma espiral de mentiras que apontam cada vez mais para sua controversa figura. Apesar de conter momentos de grande tensão, os melhores momentos do filme ficam por conta da atuação sonolenta de Pacino e as desilusões de Swank em perceber que seu ídolo é mais falho do que poderia imaginar. Sem os truques de edição e roteiro utilizados em Amnésia, Nolan parece querer focar nossa atuação somente no trabalho com os atores numa história de crimes e desilusões sob a percepção de mundo de um personagem que já tinha uma visão turva da ética e da moral muito antes de não conseguir dormir.
Insônia (Insomnia/EUA-Canadá/2002) de Christopher Nolan com Al Pacino, Robin Williams, Hillary Swank e Martin Donovan. ☻☻☻
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