domingo, 1 de julho de 2012

DVD: Tão Forte e Tão Perto

Horn: boa atuação e antipatia do público. 

Neste ano nove filmes foram indicados ao Oscar de melhor filme, desses nove concorrentes o escolhido para se falar mal foi o quarto longa-metragem do diretor Stephen Daldry: Tão Forte e Tão Perto. Eu li tantas resenhas criticando os mais diversos aspectos do filme que, talvez por conta disso, eu gostei bastante de assistí-lo. Claro que existem outros fatores que colaboram em minha relação com o filme. Em primeiro lugar eu tenho grande afinidade com a obra de Daldry desde que ele lançou Billy Elliot (2000), sei que muitos consideram suas obras artificialmente pedantes, que flertam com o melodrama e exageram na trilha sonora. Segundo, tenho grande simpatia pela obra de Jonathan Safron Foer, escritor do livro que deu origem a esse filme e Uma Vida Iluminada (2005), um dos filmes mais subestimados de todos os tempos. Desde que descobri que Extremely Loud and Incredibly Close estava misturando o universo de ambos eu fiquei um bocado animado. Na mente dos mais exigentes as expectativas devem ter chegado ao limite do suportável, já que a obra se referia às desventuras de um órfão dos ataques de onze de setembro. Senti que alguns críticos esperavam a obra-prima sobre os atentados, sinceramente, essa nunca foi a minha visão. Quem, conhece a obra de Foer sabe que a escrita afiada serve para valorizar as relações, os objetos repletos de significados e memórias que buscam se manter através do tempo. Quem conhece Daldry percebe que ele sabe arrancar boas atuações de seu elenco, ao mesmo tempo que não se preocupa em criar histórias muito fáceis de digerir em tempos em que os sucessos de bilheteria primam pela banalização. Eu não sei porque estou me justificando tanto para explicar que gosto do filme, mas existe ainda um terceiro fator que alguns consideram crucial na antipatia que o filme pode gerar: o protagonista. Embora no alto dos créditos esteja os nomes de Tom Hans e Sandra Bullock, eles são os pais coadjuvantes de Thomas Horn, o estreante que encarna Oskar Schell - um moleque por volta dos onze anos que suspeita-se ter síndrome de Asperger. Houve quem dissesse que Daldry só queria indicações ao Oscar ao centralizar sua narrativa num garotinho que perdeu o pai na tragédia. Não é bem assim, já que Oskar é assumidamente um personagem difícil de engolir. Arrogante, petulante e pedante, Oskar não faz o tipo coitadinho e por isso mesmo muita gente torceu o nariz para o filme. Eu queria saber onde está escrito que protagonistas devem ser sempre simpáticos, além do mais, imaginem um pré-adolescente com síndrome de Asperger! Apesar de estrante, Horn tem total noção das características da síndrome que correspondem ao seu personagem (dificuldade de interação social, interpretação literal da linguagem, comportamento estereotipado, dificuldade em lidar com a mudança na rotina,  processar e expressar emoções...), mas quem reclamou de Oskar Schell perdeu as características da síndrome totalmente de vista. No filme, Oskar ainda tenta lidar com os ataques de 11 de setembro que vitimou seu pai (ele se refere à data como "o pior de todos os dias") e cria uma verdadeira obsessão em buscar o último momento com o pai após encontrar uma chave no armário do pai. Basta ver escrito a palavra Black escrita no envelope em que a tal chave se encontrava para que pesquise todos os Black que moram em Nova York, seu objetivo é encontrar a fechadura que a tal abrirá. Obviamente que o livro utiliza uma série de recursos para contar a cruzada pessoal do menino que não aparecem com o mesmo destaque no filme, deste aspectos que surgem as críticas mais consistentes ao filme (as páginas eram repletas de recursos gráficos que reproduzem as estratégias de Oskar e havia analogias dos ataques às Torres Gêmeas com o bombardeio americano em Dresden na Segunda Guerra Mundial).  Daldry tem uma leitura centrada totalmente em Oskar e seu crescimento nas relações que estabelece na busca pelo encaixe que dará sentido a tudo que sente. É verdade que a jornada de Schell fica mais interessante quando passa a desfrutar da companhia do misterioso Inquilino (Max Von Sydow, indicado ao Oscar de coadjuvante) que mora no apartamento de sua avó.  São nos momentos da dupla que a casca do garoto começa a se desfazer e seu olhar sobre o mundo começa a se transformar. A performance de Sydow é inesquecível e faz até esquecermos que Sandra Bullock está ótima como a mãe que não consegue se conectar com o mundo particular do filho (o que o Oscar não faz na carreira de uma pessoa!). Completa as boas atuações do longa Viola Davis e Jeffrey Wright em participações afetivas fundamentais para o desfecho da trama. Ainda que todo mundo diga que não seja tão bom quanto o livro, Tão Forte e Tão Perto é um filme extremamente emocional e eficaz  na forma como expressa a fraternidade após a tragédia. 

Tão Forte e Tão Perto (Extremely loud and Incredibly Close/EUA-2011) de Stephen Daldry com Thomas Horn, Tom Hanks, Sandra Bullock, Max Von Sydow, Viola Davis e Jeffrey Wright. ☻☻☻☻

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