Vendo Larry Crowne nem dá para acreditar que se fosse lançado na década de 1990 seria um dos filmes mais badalados do ano. O motivo? Juntar Tom Hanks e Julia Roberts na mesma tela numa comédia romântica. Diferente do que percebemos hoje, a década de 1990 foi o período em que os grandes astros ditavam as regras e bilheterias milionárias, foi assim que Hanks se tornou o astro mais popular daquela época, chegando a ganhar o Oscar de ator por dois anos seguidos (pelos ótimos Filadélfia/1993 e Forrest Gump/1994) e Julia foi a primeira atriz a romper a barreira dos 20 milhões de dólares por filme. Como o tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus nem existe mais, Larry Crowne não empolgou nas bilheterias e assistindo ao filme você vai saber automaticamente motivo. O filme embarca num dos temas favoritos do recente cinema americano: a crise econômica. A diferença é que falta uma história consistente, ou pelo menos que entregue alguma novidade para o espectador. Deve colaborar para isso o fato de ser a segunda experiência de Hanks na direção. Se o ator conseguia imprimir algum apelo pop na direção do simpático The Wonders (1996), aqui ele se contenta em fazer o mais trivial feijão com arroz. O pior é que se esmero em ganhar nossa simpatia acabou deixando tudo insosso demais (mas o que esperar de um roteiro escrito por Hanks e a amiga Nia Vardalos?). O astro interpreta o personagem título, um homem solitário que perde o emprego por não ter feito um curso universitário e que acaba indo para a faculdade. Como aluno, Crowne é esforçado, mas o roteiro não se concentra nos estudos do personagem ou em seu novo emprego, prefere se concentrar na sua amizade com uma colega boazinha e atiradinha (Gugu Mbatha-Raw) que namora o líder de um grupo de motoqueiros bonzinhos (Wilder Valderrama), além das aulas de Larry com a professora Mercedes Tainot (Julia Roberts). Se Hanks continua sendo o bom moço, Roberts tem investido cada vez mais em ser megera (basta lembrar que seu papel mais recente no cinema foi a Bruxa madrasta da Branca de Neve em Espelho, Espelho Meu/2011). Sua Marcedes é uma chata com cara de tédio que prefere ganhar sem ter que dar aula. Suas aulas de retórica são pura enrolação, assim como o seu casamento com um coroa que prefere gastar o tempo na internet do que trabalhar. Enfim é uma mal amada (ou uma mala amada?). Claro que tudo vai se resolver quando subitamente quando Crowne e Mercy descobrirem uma atração mútua que surge feito mágica no roteiro! Não lembro de ter visto um filme em que o casal se descobre apaixonado de forma tão repentina e transformadora. Afinal, basta a mulher se apaixonar para que se torne uma professora agradável para seus alunos e uma pessoa melhor para os que a cerca! Não vou nem mencionar os coadjuvantes, já que nem o roteiro se preocupou em desenvolvê-los com alguma atenção - e olha que Hanks conseguiu agregar Pam Grier e Taraji P. Henson para fazerem absolutamente nada, ou melhor, são apenas mais personagens boazinhas que cercam os protagonistas. Tudo soa tão artificial em Larry Crowne que nem as piadinhas chegam a funcionar (Hanks surpreendido de cueca? Celebrando um beijo enquanto é flagrado pelo olho mágico?), tirando o professor de economia com o senso de humor mais estranho do cinema nada tem muita graça. Larry Crowne pode até despertar alguma simpatia da plateia, mas está longe de ser um filme memorável, colabora para isso até o acréscimo enganoso que recebeu no título por aqui ("O amor está de volta"? Se ele é assim nem precisa voltar!). Algum amigo deveria dizer para Hanks que qualquer diretor principiante desconhecido poderia ter feito um filme assim, só que ele permaneceria sendo um desconhecido. Só para lembrar, essa é a segunda vez que Hanks e Julia trabalham juntos no cinema, a primeira vez foi no igualmente decepcionante Jogos do Poder (2007) de Mike Nichols. Acho melhor o ator voltar a fazer filmes com Meg Ryan!
Roberts e Hanks: faltou sal.
Larry Crowne (EUA/2011) de Tom Hanks com Tom Hanks, Julia Roberts, Pam Grier e Rita Wilson. ☻☻
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