Fiennes e Butler: no meio do caminho.
Ralph Fiennes é um ator consagrado que no ano passado resolveu estrear na direção. Todo mundo se empolgou com as possibilidades do ator mostrar seu talento atrás das câmeras e o fato de reunir um elenco encabeçado por ele, Vanessa Redgrave, Jessica Chastain, Bryan Cox, Gerard Butler e James Nesbitt só fez a expectativa crescer ainda mais! Acho que nem precisa mencionar que sua primeira aventura como cineasta é a adaptação de um texto shakesperiano. Fiennes tem grande familiaridade com o bardo inglês, sua montagem de Hamlet nos palcos londrinos está entre os grandes momentos de seu currículo - e tudo fazia crer que seu filme poderia até figurar entre os indicados ao Oscar. Quem vê o filme lançado direto nas prateleiras irá perceber que algo não deu certo nessa empreitada e ganha um doce quem adivinhar por que as coisas acabam não funcionando. Fiennes cai na armadilha de oitenta por cento das pessoas que levam Shakespeare para as telas: o texto. Obviamente que o texto do escritor é digno de todos os elogios, mas não podemos esquecer que foi escrito para o teatro, portanto, existem palavras que estão ali para dar ênfase a sentimentos que não contam com um telão para exibi-los. Basta lembrar que no teatro o cara da primeira fileira tem que ver a mesma intensidade que o rapaz sentado na última cadeira. Manter falas empoladas e muito detalhadas dos palcos num filme costuma aborrecer por serem desnecessárias no cinema, afinal, um bom ator é capaz de mostrar a emoção na medida certa para a telona com um gesto ou olhar. Fiennes teve a boa ideia de fugir do óbvio ao escolher uma das peças menos conhecidas de Shakespeare, tem o bom senso de lapidar parte dos diálogos para uma contextualização mais contemporânea da trama, mas tenho a sensação que no meio do caminho se acovardou e optou por tornar tudo cada vez mais óbvio e reverente, o resultado é uma espécie de colcha de retalhos de tudo que já foi feito em nome de modernizar a obra shakesperiana. Caius Martius Coriolanus (Ralph Fiennes) é um general repleto de fúria e cicatrizes que apesar de desprezar o povo de seu país (que no filme se auto-intitula Roma) tem grandes pretensões políticas. Suas ambições foram motivadas desde muito cedo pela mãe controladora, Volumnia (Vanessa Redgrave) que mesmo no conforto do lar o trata em regime militar. Tanto rigor faz com que sua esposa (Jessica Chastain) até estranhe o homem com que se casou. A ascenção de Coriolanus ao posto de cônsul ganha fôlego após sua batalha com seu inimigo guerrilheiro Tullus Aufidius (Gerard Butler), mas, ciente dos planos autocratas do futuro cônsul, a mídia lidera a população numa campanha contra Caius Martius. Centrada praticamente num jogo político, Fiennes insere cenas de guerra movimentadas no início e ideias interessantes pelo caminho (a melhor delas é fazer Coriolanus ser julgado num programa de TV e não em um tribunal), mas não consegue criar uma narrativa harmônica para o que tem em mãos. É gritante a marcação dos atos da peça no filme e o fato de militares travarem diálogos cheios de firulas torna tudo ainda mais esquisito. Embora o elenco se esforce, Fiennes não consegue fazer com que os colegas digam seus diálogos de forma menos teatral (e as legendas em português tendem a piorar isso com emprego demasiado da terceira pessoa nas falas) e, curiosamente, Fiennes deveria ter deixado o ego de lado e deixado o papel principal para outro ator. Ao acumular funções, o diretor parece ter mais cuidado com as atuações de seus colegas de elenco do que com a dele que está bastante exagerado (quem sabe de seu papel como Lorde Voldemort pode até imaginar que está vendo uma espécie de passado do personagem inimigo de Harry Potter). Ao centrar somente na fúria de Coriolano faltou sutileza em sua atuação, o que acaba comprometendo todo o filme. Sendo assim, nem quando se une ao seu inimigo para se vingar da cidade que o baniu o filme chega a empolgar. Resta a força da trama que entre ser modernizada ou reverenciada, ficou no meio do caminho.
Coriolano (Coriolanus/Reino Unido - 2011) de Ralph Fiennes com Ralph Fiennes, Vanessa Redgrave, Gerard Butler, Jessica Chastain, James Nesbitt e Bryan Cox. ☻☻
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