Hugo e seu pai: o segredo está no cinema.
É realmente interessante ver Martin Scorsese criando um filme a partir de um livro infantil, mais interessante foi vê-lo trabalhar com uma tecnologia tão moderna quanto a de fazer filmes em 3D com grande desenvoltura. Acho que dos grandes cineastas surgidos nos Estados Unidos na década de 1970 ele é o único que não se acomodou (vocês precisam me convencer que Brian dePalma, Francis Ford Coppola, George Lucas e até Steven Spielberg não se acomodaram). Depois da esnobada recebida pela Academia com Ilha do Medo (2010), acho que Scorsese não fazia ideia do efeito que seu olhar sobre a história do cinema causaria nas plateias. Embora A Invenção de Hugo Cabret não tenha se tornado um arrasa quarteirão é difícil ficar indiferente a ele. Hugo (Asa Butterfield) é um órfão que vive numa estação de trem ajustando relógios e encontrando peças para terminar uma máquina deixada por seu pai (Jude Law). Trata-se de um autômato, uma espécie de robô simplório que só pode ser ativado com uma chave em formato de coração. Para desespero de Hugo, um caderno de anotações com instruções para fazê-lo funcionar é pego pelo dono da loja que conserta brinquedos (Ben Kingsley). A partir desse momento o caminhos desses dois personagens ficarão unidos até o fim da sessão, mesmo que um não simpatize muito com o outro. Depois que encontra a menina Isabelle (Chloë Grace Moretz)., Hugo descobre que existe uma conexão entre o autômato e aquele senhor mal humorado que antes era conhecido como o cineasta Georges Méliès (que ressente-se de ter sido esquecido pelo tempo). A ideia do tempo é fundamental à trama, está presente em cada cena com os inúmeros relógios que Scorsese espalha pelos cenários e, mais do que isso, Scorsese parece dizer que tudo é parte de uma engrenagem para que as coisas funcionem. Pode-se interpretar isso como a forma que os personagens se misturam ou na maneira de cada avanço tecológico surgir enquanto peça do mecanismo de se fazer e pensar cinema nos dias atuais. Quem viu o filme no cinema deve ter percebido o quão fascinante era assistir a chegada do trem na estação dos irmãos Lumiére e ter a sensação de que o trem sairia da tela (e o 3D excepcional do filme ajuda nessa experiência), da mesma forma as ideias inovadoras dos filmes de Méliès, um pioneiro em efeitos visuais, também renascem na concepção de Scorsese. O que deve ter atrapalhado o sucesso do filme é o fato de ser arrastado e sério demais para empolgar o público infanto-juvenil, ao mesmo tempo pode ser considerado pueril demais para as plateias adultas. Quem deve aproveitar melhor as ideias de Scorsese são os fascinados pela história do cinema e aqueles capazes de enxergar no filme algo mais do que mais uma história de um garoto órfão. Não que a maioria reclame do visual e das atuações que o diretor arranca de seu elenco, apesar de conseguir a atuação mais elaborada de Sacha Baron Cohen na pele do guarda da estação que persegue órfãos, é o menino Butterfield que garante os melhores momentos com seus olhos mágicos capazes de derreter uma geleira. Num ano em que a nostalgia dominou o Oscar, o filme ganhou os prêmios de fotografia, direção de arte, edição de som, som e efeitos visuais perdendo os outros seis a que concorria (incluindo filme e direção para outra pérola nostálgica: O Artista).
A Invenção de Hugo Cabret (Hugo/EUA-2011) de Martin Scorsese com Asa Butterfield, Chloë Grace Moretz, Ben Kingsley, Sacha Baron Cohen, Jude Law, Ray Winstone, Emily Mortimer, Christopher Lee e Ray Winstone. ☻☻☻☻
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