Justin e Amanda: mais pose que atuação.
O cineasta neozelandês Andrew Niccol foi uma das grandes promessas de Hollywood ao final da década de 1990, além de ter estreado na direção com o elogiado sci-fi Gattaca (1997) ele ainda concorreu ao Oscar de roteiro original pela escrita de O Show de Truman (1999). Vendo os filmes deste senhor de quase cinquenta anos não é difícil perceber sua criatividade e gosto pela ficção científica. Pena que sua carreira tem se mostrado um tanto irregular. Se sua estreia prometia uma carreira de sucesso, ela naufragou logo no filme seguinte com S1m0ne (2002), aquele filme em que Al Pacino cria uma estrela de cinema por computador - e que foi mais falado do que visto. A coisa não melhorou muito quando fez o roteiro de O Terminal (2004) que se tornou um dos filmes mais inexpressivos de Steven Spielberg. Sorte que em 2005 ele deu a volta por cima com o interessante O Senhor das Armas estrelado por Nicolas Cage. Seis anos depois ele volta à ficção científica com esse O Preço do Amanhã e prova, mais uma vez, que tem ideias interessantes, mesmo que não aproveite todas as possibilidades que elas lhe oferecem. A história se passa num futuro não identificado onde o tempo se tornou a moeda de troca. Aparentemente, para vender a ideia à humanidade, as pessoas param de envelhecer aos vinte e cinco anos, no entanto, precisam trabalhar para ganhar cada vez mais "tempo" para que possam viver. Acabando seus segundos, a pessoa morre abruptamente. É uma lógica interessante e cruel que consegue produzir uma alegoria pertinente sobre o capitalismo e sua lógica onde "time is money" - e centenas de pessoas morrem diariamente por não ter dinheiro para sustentar seu tempo de vida. Niccol não se preocupa em explicar como surgiu essa ideia mirabolante, nem como as pessoas têm sua cota temporal escrita digitalmente num mecanismo misterioso abaixo da pele. No entanto, o filme consegue segurar nossa atenção quando nos apresenta Will Salas (Justin Timberlake, que parece estar levando a sério a carreira de ator), um rapaz que precisa batalhar num dia o seu tempo de vida para o dia seguinte. Após conhecer um milionário que era perseguido pelos bandidos conhecidos como "mafiosos do tempo" (liderados por Alex Pattife Pettyfer), Will recebe de presente mais de um século de vida e uma nova percepção do sistema social em que vive (onde o custo de vida sobe mais do que a remuneração dos mais pobres, uma medida para evitar a superpopulação e o fim dos recursos materiais). Depois de receber essa "consciência social", Will é acusado de assassinato e passa a ser perseguido enquanto tenta desmontar a estrutura econômica em que vive. A partir daí o filme perde um bocado do ritmo ao inserir na narrativa a menina rica rebelde Sylvia Weis (a chatinha Amanda Seyfried), que tem um flerte com Will e passa a ser sua parceira. Quando passa a se concentrar nas correrias de Will e Sylvia o filme deixa as ideias de lado e vira um filme de ação desmiolado. Seria muito mais interessante explorar as origens do guardião do tempo vivido por Cyllian Murphy, os escrúpulos do "banqueiro" vivido por Vincent Kartheiser (o Pete do seriado Mad Men) ou a amizade de Will com Borel (Johny Gallecki da série Big Bang Theory), isso sem falar as referências jogadas na tela sobre o pai de Will. Não vou nem mencionar alguns furos do roteiro (como os empregados trabalham na casa dos ricos se eles não podem atravessar as fronteiras? Por que alguns atores parecem ter mais de 25 anos?). Sorte que a boa ideia de Niccol consegue segurar as pontas (tanto que a bilheteria rendeu quatro vezes o custo de produção do filme), poderia ter rendido mais se houvesse arranjado uma atriz mais consistente do que Seyfried que passa o filme inteiro fazendo pose e ajeitando a peruca do personagem mais desinteressante da trama.
O Preço do Amanhã (In Time/EUA-2011) de Andrew Niccol com Justin Timberlake, Amanda Seyfried, Olivia Wilde, Cillian Murphy, Vincent Kartheiser, Johny Gallecki, Alex Pettyfer e Matthew Bomer. ☻☻☻
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