domingo, 3 de setembro de 2017

CICLO VERDE E AMARELO: Elis

Horta: atuação melhor que o roteiro. 

Elis Regina é celebrada ainda hoje como a maior cantora brasileira de todos os tempos, ainda que você não concorde, o culto à sua imagem e música se mantem na memória nacional até hoje. Portanto, fazer um filme sobre a sua história era algo esperado faz tempo, o difícil era encontrar um roteiro que desse conta de ser coerente e não desagradar os fãs da pimentinha. Não vou escrever que seria difícil uma atriz que conseguisse dar vida à atriz, já que considero que nosso país tem mulheres talentosíssimas e Andréia Horta é a prova disso, já que por vezes é capaz de confundir o fã mais xiita quando aparece na tela. Ela é responsável por dar mais do que o corpo, mas busca a todo tempo a alma da artista. O que pode desagradar a maioria dos fãs é que o diretor Hugo Prata opta pela biografia mais tradicional possível, condensando em menos de duas horas a trajetória da cantora, obviamente que muita coisa ficou de fora, mas seria realmente impossível dar conta de uma carreira tão intensa em tão pouco tempo, mas isso torna o filme um pouco atropelado. O filme começa com sua chegada ao Rio de Janeiro acompanhada pelo pai (que desaparece da história por completo tão logo o sucesso chega). Aparece seu início cantando na noite, a participação em festivais, seu primeiro LP, seu sucesso na TV, seus problemas no casamento com Ronaldo Bôscoli (Gustavo Machado), seu problema com os militares durante a ditadura e com o público... são tantos momentos importantes conhecidos na vida da personagem que ficou faltando um pouco mais da pessoa por trás do mito. Tive a impressão que para o roteiro bastava associar a trajetória musical da cantora com sua vida pessoal, as músicas alegres começam a dar espaço às músicas de protesto e posteriormente para as mais melancólicas. Esta opção traz uma dinâmica interessante para o filme, mas seria coerente com a vida de Elis? Se houvesse escolhido um recorte temporal mais curto o filme conseguisse dar conta de fazer um retrato mais profundo da estrela enquanto personagem e não uma colagem de acontecimentos.  Tecnicamente o filme é bem realizado e o elenco também ajuda a tornar o filme bastante interessante, Caco Ciocler faz um César Camargo Mariano que funciona como um porto seguro para a cantora, Lúcio Mauro Filho faz um Mielle bastante crível, mas a revelação mesmo foi Julio Andrade dando vida ao dançarino Lennie "Dzi Croquette" Dale, que eu não fazia a mínima ideia que era amigo de Elis. Embora corrido em excesso e simplifique alguns conflitos da personagem, para um filme de quase duas horas ele pode ser satisfatório, mas entendo que os fãs de Elis percebam no filme mais defeitos que qualidades. Pela qualidade da produção, pelo elenco e pela música, o filme ainda fica acima da média. 

Elis (Brasil/2016) de Hugo Prata com Andréia Horta, Gustavo Machado, Caco Ciocler, Júlio Andrade, Lúcio Mauro Filho, Zecarlos Machado e Rodrigo Pandolfo. ☻☻

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