Eduardo e Luciana: humor mórbido.
Sinfonia da Necrópole é um dos filmes brasileiros mais elogiados dos últimos tempos e assim que você começa a assistir você entende logo o motivo. Ambientando num cemitério o filme gira em torno de um coveiro medroso chamado Deodato (Eduardo Gomes) que começou no ofício por influência do tio, que tem longa experiência no ramo. Enquanto Deodato ainda tenta se adequar ao trabalho, ele recebe a tarefa de ajudar Jaqueline (Luciana Paes), funcionária que chega para reformar o cemitério em busca de mais jazigos. A tarefa dela não é fácil, já que ele precisa dar conta da criação de um jazigo vertical que dará conta de abrigar mais ossadas e, com isso, gerar mais ganhos à administração. Existe uma atração e uma tensão visível entre o casal, mas a diretor Juliana Rojas (parceira de Marcos Dutra em Trabalhar Cansa/2011) sempre escapa do óbvio e resiste ao tom de comédia romântica, preferindo realizar um... musical! Pois é, Sinfonia da Necrópole é um musical ambientado num cemitério e reside aí todo o interesse que você pode sentir pelo filme. Passado o estranhamento inicial (menos pelo fato de ser no cemitério e mais por conta das músicas constantes), você irá perceber que o longa cumpre várias tarefas complicadas por optar por um gênero pouco visto no cinema brasileiro e manter o bom senso de evitar o desrespeito com um espaço que envolve sentimentos delicados de abordar. Com tantos complicadores, Rojas faz um filme simpático e divertido, especialmente pelas letras das músicas, que ajudam não apenas a trama avançar, mas na abordagem de alguma ironias sobre a história em si. O que considerei o ponto mais fraco do filme são as melodias, não sei se é proposital, mas achei de um tosqueira sonora total, o que aumenta a graça, mas castiga os ouvidos de vez em quando. Talvez a ideia seja esta, a de revelar o quanto um musical pode soar artificial e ironizar um pouco mais a trama o absurdo da ideia (e a cena do karaokê talvez revele que as músicas não são mesmo para serem num nível profissional, por isso, não vou entrar no mérito dos pendores cantantes dos atores). Portanto, se concentre nas letras escritas pela diretora e seu fiel parceiro Marcos Dutra e você verá como elas podem revelar o estilo fruto da união da dupla que curte temas sombrios abordados com humor peculiar (aspectos que fizeram de Trabalhar Cansa um filme bastante especial e elogiado ao ser exibido no Festival de Cannes). Quem acompanha o trabalho do casal verá como seus voos solo (Dutra fez o tenso O Silêncio do Céu/2016 e o arrepiante Quando Eu Era Vivo/2014) ajudam a compreender a identidade cinematográfica de cada um (os dois dupla estarão junta novamente em As Boas Maneiras previsto para estrear ainda neste ano). Sinfonia da Necrópole vale sobretudo por sua inventividade e será um dos filmes mais originais que você verá em muito tempo.
Sinfonia da Necrópole (Brasil/2014) de Juliana Rojas com Eduardo Gomes, Juliana Paes, Paulo Jordão, Antonio Velloso e Adriana Mendonça. ☻☻☻☻
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