Famílias reunidas: suspense pós-apocalíptico.
O cineasta Trey Edward Shults ganhou o mundo quando sua estreia recebeu elogios no Festival de Cannes, com o drama familiar Krisha (2015) o rapaz se tornou figura conhecida em festivais do cinema independente e ainda levou para a casa o cobiçado John Cassavetes Awards no Independent Spirit Awards concedido ao melhor filme com baixíssimo orçamento daquele ano. Quem viu Krisha percebeu seu talento para criar uma narrativa onde os fatos falam mais do que os diálogos e a narrativa imagética criava mais tensão do que qualquer outro elemento em cena. Seus closes e movimentos de câmera foram capazes de fazer um dia de Ação de Graças fadado ao fracasso ganhar forma de um filme de horror, mesmo sendo um drama. Não por acaso que o filme seguinte do jovem diretor é um suspense que, alguns tentaram vender como um filme de terror (e gerou alguma insatisfação no público), mas na verdade é um filme que fala muito sobre o imaginário mundial atualmente e suas paranoias. Houve quem ficasse se perguntando o que de tão terrível acontece durante a noite durante a trama, mas posso garantir que não é algo tão terrível quanto as atitudes que Paul (Joel Edgerton) é capaz de fazer para manter a segurança de sua família. Shults não explica muito bem como seus personagens foram parar naquela situação, mas basta usar a cabeça para imaginar que tudo se passa num período pós-apocalíptico onde há pouca comida, água escassa e um perigo eminente de contaminação quando anoitece. Logo no início Paul precisa lidar com a contaminação do sogro. Ao lado da esposa, Sarah (Carmen Ejogo) e o filho adolescente, Travis (Kelvin Harrison Jr.) ele precisa tomar uma atitude drástica. Enquanto a família (e o cachorro de estimação) ainda enfrenta o luto , eles percebem que a casa foi invadida. Assim eles conhecem Will (Christopher Abbott) outro sobrevivente que pensou ter encontrado um casa vazia e que poderia ter suprimentos para sua família. Deste ponto em diante a rotina da família muda, embora permaneçam as regras que precisam ser respeitadas para que continuem seguros e sem risco de contaminação. No entanto, por mais que exista um clima amistoso na casa, Paul sempre ensina ao filho que ele não pode confiar em ninguém que não seja da família. Logo a fragilidade daquelas relações irá se revelar e, acredite, os desdobramentos serão mais assustadores do que os pesadelos que assombram Travis. Shults faz um filme que parece extremamente simples, com um único cenário isolado da civilização e bons atores (destaque para Edgerton e Abbott em duelo constante), mas o melhor desta produção modesta (custou três milhões e arrecadou três vezes este valor nas bilheterias americanas) são as suas ideias, especialmente a de que os outros não são pessoas iguais a você, mas ameaças iminentes - o que torna o filme numa dolorosa alegoria bastante necessária sobre os tempos estranhos em que vivemos. Ignore os sustos presentes nos sonhos ruins de Travis e se concentre na essência do filme, que garanto que você irá notar que os pesadelos já estão acontecendo.
Ao Cair da Noite (It Comes at Night/EUA-2017) de Trey Edward Shults com Joel Edgerton, Christopher Abbott, Carmen Ejogo, Kelvin Harrison Jr. e Riley Keough. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário