sexta-feira, 8 de setembro de 2017

CICLO VERDE E AMARELO: Redemoinho

Júlio e Irandhir: o passado presente na memória. 

O diretor mineiro José Luiz Villamarim ganhou o coração da crítica com duas séries bem sucedidas na TV (Justiça e Nada será Como Antes ambas de 2016), mas foi no início de 2017 que ele conseguiu seu voo mais ambicioso com a chegada de seu primeiro longa-metragem nos cinemas, o elogiado Redemoinho. Baseado no livro Inferno Provisório de Luiz Ruffato, o filme conta a história de dois amigos de infância que se reencontram depois de muito tempo. Um deles é Luzimar (Irandhir Santos) que cresceu na pequena cidade de Cataguases (Minas Gerais), trabalhando na tecelagem que movimenta a economia local até se tornar fiscal de produção. Ele se casou com Tonia (Dira Paes) e parece ter uma vida feliz, ainda que a audição tenha sido maltratada pelo barulho das máquinas ao longo dos anos. O outro é Gildo (Júlio Andrade) que foi tentar a vida em São Paulo e voltou dirigindo um carrão para visitar a mãe solitária, Dona Marta (Cássia Kis Magro) que sempre aguarda a visita de seu outro filho - o mais querido Gilmar. Até o encontro de Luzimar com o visitante, Villamarim apresenta a cidade sempre rompendo a quietude que se espera da cidadezinha, seja pelo trem que está sempre cortando o silêncio ou o maquinário pesado que produz a leveza dos tecidos. Seja por uma senhora triste, um personagem sem destino que vagueia desequilibrado pelas ruas ou a própria Dona Marta que parece acolhedora mesmo com as frases amargas que destila entre os dentes, a cidade se equilibra entre dois movimentos: o que se mostra e o que se sente. Curiosamente, desde o primeiro momento, a presença de Gildo não parece bem-vinda e a situação piora depois de várias garrafas de cerveja e as verdades desconfortáveis começam a aparecer . Não é por acaso que Villamarim escolheu o nome de Redemoinho para sua cria, afinal, seja pelos ventiladores, pelo movimento da água que desce pelo ralo ou as lembranças de Luzimar que persistem em sua memória a narrativa evoca o movimento circular sem ser óbvia, sempre indo e vindo ao mesmo ponto: é melhor sair ou ficar naquele lugar? A esta ideia de movimento (ressaltado ainda mais pela ponte e o trem - que também marca passagem do tempo), somado ao fato da história se passar toda no dia de Natal, tudo se torna ainda mais emocional e extremamente contido. Villamarim não gosta de malabarismos visuais ou invencionices  narrativas, nem precisa, já que seu estilo é extremamente preciso no corte das cenas e nos enquadramentos que emolduram os diálogos reveladores. Construído milimetricamente em seus fantasmas, Redemoinho é uma estreia que competente,  principalmente por sua atmosfera cheia de camadas. 

Redemoinho (Brasil/2017) de José Luiz Villamarim com Irandhir Santos, Júlio Andrade, Cassia Kis Magro, Dira Paes e Cyria Coentro.  ☻☻☻

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