Rafael Cardoso: terror hospitalar.
O Cinema Brasileiro investe cada vez mais em filmes que flertam com o horror, alguns são de gosto duvidoso, mas outros confirmam que com lapidadas aqui e ali o gênero pode se fortalecer. O Rastro de Jonathan Feyer (que assina J.C. Feyer) é um desses exemplos positivos, já que demonstra um cuidado estético que impressiona em sua fotografia soturna, na ambientação da trama e no uso de efeitos sonoros que fazem toda a diferença na imersão do espectador na história. Colabora ainda mais para a nossa identificação o fato do filme ser ambientado num hospital público em petição de miséria com seus equipamentos precários, áreas abandonadas, médicos desestimulados além de corrupção e esquemas estranhos. Trocar monstros imaginários por estes elementos de nosso horror cotidiano enriquecem ainda mais a trama sobre João (Rafael Cardoso), um ex-médico que acompanha o fechamento de um antigo hospital no Rio de Janeiro. Responsável pela transferências dos pacientes, ele se depara com Júlia (Natália Maciel Guedes), uma garota que ninguém sabe de onde veio e que desaparece misteriosamente. Preocupado com o paradeiro da adolescente, João irá mergulhar numa busca à beira da loucura enquanto descobre acontecimentos estranhos em torno de outros pacientes do hospital. Rafael Cardoso surpreende como protagonista da história, aumentando gradativamente a perturbação de seus personagem, ele está muito bem acompanhado por um elenco de peso, que conta ainda com Claudia Abreu, Jonas Bloch, Felipe Camargo, Leandra Leal - esta responsável por interpretar sua esposa grávida. O núcleo familiar é um dos pontos fracos do filme, já que o roteiro não consegue desenvolvê-lo como deveria, dando mais destaque para a personagem da esposa somente na meia-hora final e mesmo assim sem muito cuidado. Ainda que o roteiro tenha problemas , o mais interessante é que Feyer faz um belo trabalho na direção, construindo uma atmosfera realmente incômoda e sombria durante todo o filme, mas erra ao espalhar alguns sustos que soam um tanto dissonantes dentro da proposta do filme, principalmente pelo excesso de gritos e explosões sonoras em busca de sustos fáceis que não eram necessários dado a tensão crescente do filme. A tensão é tão bem construída que você até pode esquecer a mudança de foco perto do desfecho. Mesmo com alguns deslizes, O Rastro é a prova que o terror está em franca evolução em nosso cinema.
O Rastro (Brasil/2016) de J.C. Feyer com Rafael Cardoso, Leandra Leal, Claudia Abreu, Felipe Camargo e Jonas Bloch. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário