Taylor e Burton: uma noite na montanha-russa.
Eu adoro ver clássicos do cinema, não apenas pela obra em si, mas para capturar um pouco o que havia na época de seu lançamento que o fez ser (ou não ser) um sucesso. Além disso, deixa o programa muito mais interessante se você conseguir perceber como alguns são extremamente modernos até hoje. Além disso, adoro quando são em preto e branco, com atuações fortes (que hoje podemos considerar até exageradas) e uma edição marcante. Quem Tem Medo de Virgínia Woolf? preenche todos os requisitos que citei acima e, por isso mesmo, é um programa interessantíssimo. O filme marcou a estreia de Mike Nichols na direção (e que estreia!) e surpreendeu muita gente que estava acostumado a vê-lo como um comediante dos palcos e da televisão. Numa época em que já se faziam filmes coloridos, ele escolheu adaptar a a peça de Edward Albee em preto e branco e convenceu Elizabeth Taylor a ganhar peso interpretar uma mulher mais velha. Não por acaso, a diva, que na época tinha 33 anos anos levou para casa seu merecido segundo Oscar para a casa. Liz Taylor está avassaladora como Martha, a filha do reitor de uma universidade, casada com um professor e escritor frustrado, George (Richard Burton). Burton e Taylor formavam um daqueles casais icônicos de Hollywood, os dois se conheceram nas gravações do fiasco Cleópatra (1963) e oficializaram o casamento no ano seguinte. Logo, o filme de Nichols se beneficiou da enorme curiosidade do público sobre a relação dos dois... mas, ao verem o filme, acredito que levaram um susto quando se depararam com uma verdadeira montanha russa de emoções numa noite que começa em clima de diversão e termina da forma mais deprimente possível. George e Martha serão anfitriões de um jovem professor (George Segal) e sua esposa (Sandy Dennis) que são recém chegados na Universidade. A tensão já começa a aparecer quando George deseja apenas descansar e Martha parece animada demais com a visita, o que começa com uma conversa amena de fim de noite começa a se tornar cada vez mais intensa e ofensiva exibindo as fissuras que existem na relação do casal anfitrião. Frustrações, desejos, mentiras e segredos começam a ser sugeridos e ganham corpo conforme os diálogos avançam noite adentro com muito álcool alimentando o temperamento explosivo do casal. Mencionando um filho que nunca aparece, um livro que nunca se sabe se é baseado em fatos reais ou pura ficção, George e Martha perdem as estribeiras gradativamente, conduzindo o jovem casal para a realidade desiludida em que se encontram. É um ponto de partida simples sobre um jovem casal cheio de sonhos e um mais experiente que já provou o que um casamento pode ter de amargo, mas o texto conduzido com grande energia por Nichols e as atuações viscerais de Liz e Burton, ancorados pelos bons coadjuvantes o resultado é de tirar o fôlego. Repleto de cortes e ângulos revolucionários para a década de 1960, além de um texto tão realista que beira o descontrole (quando você ver o filme entenderá o que quero dizer), Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (uma brincadeira com Quem tem medo do Lobo Mau? com o nome da famosa escritora que questionava a casca de bem estar da sociedade escondendo o que era desagradável) oscila sempre entre o trágico e o cômico, o verdadeiro e o postiço até o desfecho onde são reveladas as fantasias que criamos para continuar sobrevivendo. Beira o pesadelo. O filme foi indicado a 13 Oscars, levou cinco (fotografia, direção de arte, figurino, atriz coadjuvante e melhor atriz). Aqui, Elizabeth Taylor demonstra com quantas emoções se faz uma estrela. Ela ri, grita, chora, assusta e emociona num trabalho que beira à exaustão e faz deste filme um clássico irresistível.
Quarteto indicado ao Oscar: à beira da combustão.
Quem Tem Medo de Virginia Woolf (Who's Afraid of Virgina Woolf / EUA - 1965) de Mike Nichols com Elizabeth Taylor, Richard Burton, George Segal e Sandy Dennis. ☻☻☻☻☻
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