Mão: buscando o corpo.
Aclamado no Festival de Cannes e indicado ao Oscar de Melhor Animação, Perdi Meu Corpo foi logo rotulado de a animação mais esquisita do ano passado. Disponível na Netflix desde o final do ano passado, confesso que quando comecei a assistir o filme sobre uma mão sem corpo, imaginei logo que o autor havia encontrado inspiração na famosa mãozinha que acompanha a Família Adams. Não é nada disso (ou pelo menos, ele se distancia bastante desta ideia). Embora a mão apresente alguns movimentos parecidos, a história apresentada aqui é bem particular original. Baseado no livro de Guillaume Laurent (eterno parceiro de Jean Pierre-Jeunet), que assina o roteiro ao lado do diretor Jéremy Clapin, o filme conta a história da jornada da mão em busca do corpo, proporcionando várias leituras sobre o desejo de estar completo. Não é por acaso que o dono, ou corpo, da mão é um jovem órfão, Noufel, que vive em empregos não muito valorizados e lembrando do acidente que custou a vida de seus pais. Assim como a mão, Noufel sempre busca algo que o complete, seja um emprego, seja uma garota que possa se interessar por ele ou o ajuste com o passado. Esta jornada de ambos é mostrada de forma complexa, misturando passado, presente e memórias, mas embora tenha toques de humor e até aventura, a costura do filme é bastante melancólica na abordagem da trajetória de seus protagonistas e mesmo que apresente momentos um tanto dispersos, o filme consegue construir uma narrativa bastante interessante com seu traço realista e momentos bastante surreais. O filme busca sempre uma proximidade dos personagens, quase nunca utilizando cenas que lhe mostram de corpo inteiro. Também existe sempre aqueles momentos em que as mãos de Noufel recebem destaque em sua exploração do mundo, especialmente na infância e nos trabalhos que realiza e, ainda que seja bastante onírico, com uso de poucos diálogos e longos silêncios, o filme não foge de apresentar a cena brutal em que mão e corpo se separam. Filme de estreia do francês Jéremy Clapin o filme deixa evidente qual o estilo de animação que o rapaz curte. Antes deste trabalho, Clapin realizou três curtas dignos de nota (Une Histoire Vertébrale/2004, Skhizein/2008 e Palmipedárium/2012) e já deixou claro que seus filmes são capazes de demonstrar sentimentos complicados com grande sensibilidade.
Noufel: em busca da completude.
Perdi Meu Corpo (J'ai perdu mon corps / França - 2019) de Jérémy Clapin com vozes de Hakim Faris, Victorie Du Bois e Patrick D'Assumção. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário